Pedro Oliveira, que é diretor da Nova School of Business & Economics (Nova SBE) em Lisboa, considera que o ChatGPT “está de fato causando um grande impacto em muitas indústrias”, onde se inclui o ensino, a formação.
Isto porque “de repente existe um sistema de comunicação com quem é possível manter uma conversa por escrito, a quem fazemos perguntas e que nos dá respostas tipicamente de forma mais rápida e até com, digamos que, em média, maior qualidade do que aquela, por exemplo, que nos dão pessoas quando as submetemos a um exame ou quando tentamos falar com elas”, afirma o diretor da Nova SBE.
Para quem se interessa por tecnologia, este ‘chatbot’ “é um desenvolvimento incrível, mas levanta tantas dúvidas” e “tantas questões”, porque “altera a forma como fazemos tantas coisas”, afirma.
“Hoje falamos da inteligência artificial associada a ler imagens de ressonância magnética, mas também a condução autônoma de carros. Afinal, se calhar, em breve, podemos mesmo ir para casa sem irmos preocupados em conduzir o carro”, antevê.
O ChatGPT abre “um leque tão grande de possibilidades que, dos artistas aos músicos, aos professores, aos jornalistas, aos médicos radiologistas, acho que temos todos alguns motivos para estar um bocadinho ansiosos em relação àquilo que vai acontecer”, antecipa Pedro Oliveira.
Neste caso, a inteligência artificial “chegou à produção de respostas”, este sistema ” nos permite ter uma conversa bastante inteligente” e “há quem diga que é muito mais inteligente ter conversas com o ChatGPT do que com algumas pessoas e obter respostas interessantes e bem fundamentadas, às vezes com alguns erros”, diz Pedro Oliveira.
Num “curto espaço de tempo” a versão ChatGPT 3.5 ganhou destaque — e até já se anuncia para breve o 4.0 –, o que “significa que vem aí, de fato, uma revolução que põe em causa muitas profissões como a nossa, de formadores e de pessoas que, por exemplo, têm que avaliar o conhecimento de alunos, sendo cada vez mais difícil perceber se aquele conhecimento é original ou se foi uma máquina que produziu”, avisa o diretor da Nova SBE.
” Provavelmente para as universidades é o principal desafio”, mas noutras indústrias também há desafios, admite.
Nas universidades “já tínhamos alguma tecnologia para detectar se aquela informação era plagiada”, mas agora “torna-se muito mais difícil” porque “a narrativa que é produzida pelo ChatGPT é parecida, é inspirada na narrativa humana”, explica.
“Sabemos hoje que é possível responder a perguntas de exames através do ChatGPT”, avisa, dando o exemplo da cadeira de gestão de operações, em que na Wharton Business School, da Universidade da Pensilvânia, “foi dado ao computador o exame que normalmente seria dado aos alunos”.
E o “computador passou, ou seja, o ChatGPT deu respostas certas”, tal como também passou no acesso à profissão de advogado nos Estados Unidos, apontou.
“Começamos a perceber que é muito assustador, porque de fato é um desafio novo para nós”, porque se tiver de corrigir um exame não é fácil saber quem o fez: o aluno ou a máquina, o que levanta desafios tais como como será feita a avaliação a partir de agora, comenta.
Na Dinamarca, onde tem trabalhado e vivido, “a recomendação é que os exames passem a ser cada vez mais baseados em orais, em vez de ser tudo escrito”, refere.
“Se tivermos capacidade de fazer exames orais aos nossos alunos, aí percebemos que é aquela pessoa que está à nossa frente que está no fundo a transmitir-nos aquele”, argumenta.
Um dos caminhos das universidades “é negar, proibir”, esta é a tentação “quando somos confrontados com uma inovação, com uma ideia diferente, que pode ser disruptiva do nosso ‘modus operandi'”, prossegue.
Na escola secundária da filha, na Dinamarca, onde os alunos começaram a submeter trabalhos coproduzidos pelo ChatGPT “a imediata resposta foi — e compreensível de certa maneira — proibir”, conta
Agora, “não podemos estar sempre a proibir o acesso às novas tecnologias”, defende, referindo que o que está a acontecer neste momento não é muito diferente do advento da Internet e motores de busca.
“Existe aqui um misto de sentimentos: por um lado, queremos abraçar todas estas novas tecnologias, por outro lado, elas são quase assustadoras, portanto, hoje já se fala nessa hipótese do ChatGPT ser coautor” de ‘papers’ acadêmicos, adianta o ‘dean’.
“Há aquelas pessoas que ainda estão quase em negação e que hoje, quando escrevem um artigo para um jornal escrevem por baixo a dizer que este artigo foi produzido sem qualquer recurso a ChatGPT. O que eu penso que não é sustentável a longo prazo, porque o que faz sentido é fazer — eu próprio acho que já fiz isso — escrever artigos e dizer este artigo foi escrito parcialmente ou ou pelo menos com suporte de ChatGPT, porque não há nenhum mal nisso”, argumenta Pedro Oliveira.
Aliás, “hoje é completamente aceitável socialmente que antes de eu escrever um artigo faça algumas pesquisas ‘online’ para perceber qualquer tema e, portanto, se eu faço isso com os motores de busca, certamente vou poder e até dever poder fazer isso a curto prazo com outro tipo de tecnologias, nomeadamente a inteligência artificial”, considera.
Com o ChaGPT, que até ao momento está disponível gratuitamente, é possível ter uma conversa “dita inteligente”, com quem se pode “aprender” ou “estudar” e isso “é bastante diferente daquilo a que estávamos habituados”, ressalta.
O “fascínio” pelo ChaGPT vem “do fato de que, de repente, a máquina começa mesmo a substituir o homem”, considera Pedro Oliveira.
Isto “já não é novo” porque já se assistia à máquina a substituir o homem em “atividades de menor valor acrescentado”, como por exemplo em fábricas, mas hoje “não é assim”.
“Já são profissões de indivíduos mais sofisticados que tiveram que estudar durante mais anos. São médicos agora que estão sendo (…) desafiados em relação ao ChatGPT, profissões como professores universitários, jornalistas, que de repente, podem ver o ChatGPT escrevendo as suas próprias peças, os seus próprios artigos, artistas, porque de repente é possível fazer poemas”, enfatiza Pedro Oliveira.
De uma forma geral, “quase todas as profissões (…) têm algum risco associado”, diz, dando o exemplo do que acontece com os radiologistas.
“A melhor maneira de ler uma imagem médica produzida por uma ressonância magnética já é uma máquina, não é um médico. Não é o radiologista, necessariamente, que me dá o melhor resultado, porque a máquina tem a capacidade de aprender. Se calhar a máquina já leu milhões de imagens (…) e percebeu quais eram os tumores malignos e benignos, aponta.
Aquilo que antes era feito “por pessoas, por médicos que estavam ali, pacientemente, a analisar as imagens, hoje a mesma resposta é dada por uma máquina de forma muito mais fidedigna” e aí “a máquina já substitui mesmo homem e agora até o radiologista”, sublinha.
A Comissão Europeia “já aprovou a utilização deste tipo de leituras para informar doentes, em particular quando os casos não são muito complexos”. Perante isto, a questão que fica no ar é: “Será que vamos mesmo todos ser substituídos por por máquinas?”.
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