(FOLHAPRESS) – Os casos prováveis de dengue -a soma entre casos confirmados e em investigação- no inverno deste ano são 157% maiores que mesmo período do ano passado, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde.
As semanas epidemiológicas de 25 a 30, que compreendem o início da estação e as datas de 16 de junho a 27 de julho, apresentaram 191.819 casos. Já o mesmo período do ano passado registrou 74.576 de casos prováveis entre as datas de 18 de junho a 29 de julho de 2023.
Nos meses do inverno, que acontece de junho a setembro, os casos de dengue costumam apresentar queda por causa da temperatura mais baixa -os mosquitos se reproduzem com maior facilidade em climas quentes e úmidos-, mas especialistas atribuem a alta deste ano a fatores como mudança climática e rescaldo da alta histórica registradas nos primeiros meses deste ano.
“O principal momento de reprodução do mosquito acontece com elevadas temperaturas e alta pluviosidade. Então frio e falta de chuva diminuem a quantidade de vetor naturalmente”, afirma Júlio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz.
Alta umidade, aumento de chuvas fora de época e questões climáticas como o El Niño também impactam negativamente os casos de dengue, inclusive em regiões que não registravam a doença.
“Vivemos o pior momento de circulação do vírus da dengue e, consequentemente, do vetor. E se tem vírus é porque existe o Aedes aegypti em diferentes regiões”, relata Croda.
Um inverno não tão rigoroso, com noites mais frias e dias mais quentes, somado a desastres naturais como as enchentes do Rio Grande do Sul, também favorecem a proliferação do mosquito da dengue em momentos que a doença deveria cair.
De todo o ano, no entanto, a semana epidemiológica 30 (de 21 a 27 de julho) foi a que apresentou números mais próximos ao comparativo com o ano anterior, 7.486 ante a 7.482 casos no mesmo período de 2023.
Infectologista do Hospital Sírio Libanês, Carla Kobayashi afirma que os casos aparecem como uma curva e caem proporcionalmente comparados aos números dos primeiros meses.
“Ainda temos pessoas infectadas e um alto número do próprio mosquito porque não conseguimos controlar os focos para controle epidemiológico no verão”, diz a infectologista.
De acordo com o Ministério da Saúde, o número de casos de dengue no Brasil está em queda consecutiva e sustentada há 14 semanas. A pasta afirmou ainda ter feito aporte adicional de R$ 1,5 bilhão para controle da arbovirose junto a mobilização conjunta dos governos estaduais, municipais e da população.
Hoje, o país registra 6.430.659 casos prováveis de dengue e 4.897 óbitos confirmados da doença em todo o país no ano de 2024. No último ano, foram contabilizados 1.649.144 casos prováveis e 1.179 mortes ao longo dos 12 meses.
No momento, o Ministério da Saúde diz trabalhar na organização da rede de assistência aos pacientes, capacitação de profissionais, reavaliação do fluxo de atendimento e estudos sobre os casos graves em discussões com o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAs).
O aumento de casos de dengue este ano foi observado também nos países vizinhos, como Argentina, Peru e Paraguai.
Além da América do Sul, países do sudeste asiático também têm propensão para desenvolvimento de arboviroses como a dengue, em especial por conta do clima. “Regiões tropicais como estas serão mais afetadas por aumento das arboviroses devido às mudanças climáticas”, relata Croda.
Dentre os cuidados para prevenção da doença em períodos como o inverno, os especialistas são unânimes: o frio é o melhor momento para eliminar os focos residuais da dengue com uma maior eficácia e preparar os espaços para a chegada do verão.
“É a hora ideal para limpar os focos com escova e sabão mesmo, porque os ovos que o mosquito depositou podem sobreviver até o próximo ano até em superfícies sem água”, diz Kobayashi.
Campanhas de conscientização, ações de fiscalização e intensificação das vacinas contra a dengue estão entre as demais sugestões apontadas para controle da doença segundo os especialistas.
“Não é só preparar o plano de contingência, mas testar esse plano, inclusive, com simulações”, completa Croda.
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