SÃO LUÍS, MA (UOL/FOLHAPRESS) – Uma criança de dois anos de idade morreu nesta quarta-feira (3) no povoado de Santa Rita, município de Chapadinha, interior do Maranhão, após contrair raiva provavelmente ao ter tido contato com uma raposa em agosto.
Na época do ataque, os médicos que atenderam o menino não aplicaram a vacina antirrábica nele, procedimento padrão no início do tratamento para estes casos. Após uma sucessão de idas e vindas ao hospital, Luís Samuel Almeida da Silva foi levado para São Luís, já com sintomas avançados da doença, no dia 23 de setembro, onde acabou falecendo.
Segundo o secretário de saúde de Chapadinha, Richard Wilker, os médicos envolvidos foram afastados e estão sendo investigados por possível negligência.
O menino foi atendido no dia 4 de agosto, por uma médica, com relato de arranhadura de gato e apenas foi feito o curativo e a limpeza do ferimento. No segundo atendimento, no dia 19 de setembro, no Hospital Municipal, um segundo médico lidou com um quadro de desconforto respiratório, irritabilidade e enjoos do paciente, que recebeu nebulização e antibiótico, medicação para dor e enjoo, antes de ser liberado para voltar para casa.
“No dia 20, ele faz um novo retorno ao hospital, na Unidade de Pronto Atendimento, com bastante irritabilidade, agressivo, reações como se fosse morder. Uma situação aguda da doença. E só então é encaminhada para o Hospital da Criança, em São Luís, com a suspeita de raiva”, disse o secretário.
Luís Samuel ficou quatro dias internado na unidade de saúde até ser encaminhado para o Hospital Materno Infantil, onde passou cerca de um mês até falecer, na manhã de quarta.
Em um vídeo divulgado pela própria Prefeitura de Chapadinha, sob gestão Ducilene Belezinha (PL), no dia 15 de outubro, o secretário deu explicações sobre o caso e falou como as equipes chegaram no consenso que se tratava de um ataque por raposa, e não de gato.
A constatação veio a partir de uma longa investigação e da confirmação, no dia 6 de outubro, em laboratório, do vírus da raiva e da presença de material genético de animal silvestre compatível.
“A criança estava sozinha em um cômodo. No interior do Maranhão, há a mania de deixar a criança sentada para comer. Essa criança deve ter pegado o gato que, para se soltar, acabou arranhando ele. Pode ter contaminação [pela raiva] por arranhadura, pode. Mas é raro. É muito mais comum pela saliva”, afirma. Ainda no vídeo, o diretor da Vigilância Sanitária, Rubiel Perez, continua explicando a investigação e diz que, no mesmo dia em que a criança foi arranhada pelo gato, uma raposa apareceu na casa.
“Os familiares dizem que uma raposa apareceu encostando na parede e não fugia com a presença humana. Eles tentaram afugentar, mas também não correu. Então um cachorro atacou a raposa. Eles brigaram e a raposa morreu. […] Então, ou a raposa mordeu o menino e ninguém viu -seria um ataque direto- ou foi uma infecção indireta através da saliva que estava corpo no cachorro”, disse Rubiel.
“O cachorro brigou com a raposa e pode ter ficado com saliva da raposa. Então, se o cachorro tocou no menino ferido, o vírus pôde passar para ele. (…) E por que o cachorro não adoeceu? Porque o cachorro já havia sido vacinado em anos anteriores.”
Na região de Chapadinha, o governo do Maranhão, sob gestão Flávio Dino (PCdoB), fez uma força-tarefa para investigar cães e gatos que possam ter contraído a doença. A população do povoado de Santa Rita Chapadinha, na zona rural, e toda a família de Luís também receberam a vacina antirrábica, por precaução.
Em nota, a prefeitura lamentou a morte de Luís Samuel e afirmou que se solidariza com a família.
Esse foi o primeiro caso de raiva confirmado no Maranhão nos últimos 8 anos. Antes, em 2013, os últimos dois casos foram notificados nos municípios de Humberto de Campos e São José de Ribamar.
A raiva humana é uma doença fatal em quase 100% dos casos, segundo o Ministério da Saúde. A transmissão ocorre pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, mas também pode ocorrer por meio de arranhões ou lambidas do animal contaminado.
Em humanos, os sintomas costumam ser mal-estar, dor de garganta, vômitos, sensação de angústia e, principalmente, irritabilidade. Com a evolução da doença, o paciente pode sentir espasmos musculares, febres e convulsões. Ainda segundo o ministério, a única medida a ser tomada após a infecção é a vacinação antirrábica.
À reportagem, o médico infectologista Fabrício Pessoa declarou que é possível que a criança pudesse sobreviver se tivesse tomado a vacina no tempo correto. Ele prestou atendimento ao Luís Samuel no Hospital Materno Infantil, em São Luís.
“A plena vacinação, recebendo todas as doses, e o soro, garantem, sim, esse respaldo de, efetivamente, evitar que a pessoa evolua para os sintomas graves da raiva humana, uma vez que ela promove a elaboração dos anticorpos, e eles passam a defender a pessoa. O que a gente tem receio é de a pessoa não fazer o tratamento completo. Se tivessem aplicado a vacina e o soro em tempo oportuno, a história natural da doença seria modificada completamente. É uma pena.”
Deixe o Seu Comentário