TOYOHASHI, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Foi bom enquanto durou. Depois de meses sob estado de emergência, o Japão viveu dias de otimismo entre outubro e novembro, com mais de 75% da população completamente imunizada contra a Covid-19 e um pequeno índice de novos casos que não se via desde os primeiros meses de pandemia -até a detecção da variante ômicron, sequenciada na semana passada por cientistas na África do Sul.
Até agora, nenhum caso com a nova cepa do vírus foi confirmado no arquipélago. O governo japonês, entretanto, já acendeu alerta para a ômicron, ordenando nesta segunda-feira (29) o fechamento das fronteiras, categorizando a mutação como “preocupante” -o mais alto dos três níveis de alerta do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão- e prometendo “respostas especiais”.
“A chave para administrar crises é se preparar para o pior”, disse Matsuno Hirokazu, secretário-chefe do governo na última sexta-feira (26), ao informar a imposição de quarentena de dez dias para passageiros que vierem de África do Sul, Botsuana, Suazilândia, Lesoto, Namíbia e Zimbábue; no domingo (28), também foram incluídos na lista Moçambique, Maláui e Zâmbia.
Desde o fim do estado de emergência, em 30 de setembro, o Japão estava em uma maré surpreendente de bons indicadores na pandemia: foi o último país do G7 (o grupo das principais economias do mundo) a iniciar a campanha de vacinação, mas acelerou o ritmo da imunização e agora lidera a lista dos sete.
Além disso, o país não fez lockdown e registrou recordes de infecções durante as Olimpíadas de Tóquio, mas viu a curva cair drasticamente ao longo de setembro e outubro, chegando a registrar apenas 50 casos em 22 de novembro -o menor número de 2021, pela primeira vez um nível tão baixo desde junho de 2020.
Foi nesse clima de “o pior já passou” que o país voltou a permitir shows, jogos e festas para públicos maiores, desde que respeitado o limite de 50% de ocupação nos recintos. Aproveitando o bom momento, o consulado do Brasil na cidade de Hamamatsu, na província de Shizuoka, realizou eventos culturais.
“Felizmente, a vida aos poucos está voltando ao normal -continuando, claro, com precauções, como o uso de máscara, que, aliás, sempre foi normal aqui, até antes da pandemia”, diz o cônsul Aldemo Garcia.
Nos últimos tempos, o governo japonês sinalizou que, a partir de janeiro, pretende retomar a campanha “Go To Travel”, programa de incentivo para o turismo interno. Também vinha aventando a possibilidade de reabertura de fronteiras, fechadas para turistas internacionais desde abril de 2020.
Entretanto, tudo pode mudar com o surgimento da ômicron e de outras possíveis variantes. “Nós estamos em uma situação legal agora, mas podemos ver ondas piores no futuro a depender das respostas que dermos à crise”, pondera Kento Iwata, diretor da divisão de doenças infecciosas da Universidade de Kobe.
Antes, segundo o especialista, não era possível pensar em coexistir com o vírus a longo prazo no país. Agora, as vacinas e o desenvolvimento de medicamentos que possam ajudar a prevenir quadros graves pouco a pouco podem incorporar a Covid ao dia a dia, assim como ocorre com a influenza, diz Iwata.
Aprender a conviver com o coronavírus foi uma abordagem que o Japão adotou há um bom tempo -ao fim do primeiro estado de emergência, em maio de 2020, o então premiê Shinzo Abe destacou a importância de se firmar “um novo estilo de vida” que considere a presença do vírus no cotidiano.
“Embora seja difícil prever o que pode acontecer com a emergência de novas variantes, podemos dizer que no Japão é possível coexistir com o vírus devido ao alto índice de vacinação e à implementação de diretrizes básicas contra doenças infecciosas”, avalia Haruka Sakamoto, pesquisadora do departamento de políticas de saúde global da Universidade de Tóquio.
Para ela, esse modelo de coexistência deve se basear em evitar o que vem sendo chamado de 3C: closed spaces (lugares fechados), crowded places (lugares lotados) e close-contact settings (contatos próximos).
Onde o vírus voltou a provocar ondas fortes, acrescenta Sakamoto, nota-se que ou a vacinação ainda é baixa -75% é um percentual mínimo necessário- ou as pessoas relaxaram medidas de controle depois de serem imunizadas, deixando, por exemplo, de usar máscaras.
Segundo a pesquisadora, não é hora de abaixar a guarda. “Se continuarmos com as medidas de prevenção, podemos até ter infecções, mas não tantas a ponto de precisarmos passar por outro estado de emergência”, diz. Até 29 de novembro, o Japão registrou 1,72 milhão de casos e 18.269 mortes por Covid.
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Porcentagem
POP. TOTALMENTE IMUNIZADA CONTRA COVID-19 NO G7 + BRASIL
Japão: 76,9%
Canadá: 76,1%
Itália: 72,9%
França: 69,4%
Reino Unido: 67,8%
Alemanha: 67,8%
Brasil: 60%
Estados Unidos: 57,9%
Fonte: Our World in Data, dados atualizados em 28.nov
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