(UOL/FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Piracaia (SP), a 91 km da capital, instaurou inquérito para investigar a morte da corretora de imóveis Natacha Lopes Silvério, 28, após uma cirurgia plástica para colocar próteses de silicone nos seios.
A morte cerebral de Natacha foi constatada na quarta-feira (9) no hospital Universitário São Francisco de Assis, no município vizinho, Bragança Paulista.
Segundo o atestado de óbito, após o procedimento, Natacha apresentou insuficiência respiratória aguda, encefalopatia hipóxico-isquêmica (redução de oxigênio no sangue) e tromboembolismo pulmonar –obstrução da artéria pulmonar.
Natacha estava internada desde o dia do procedimento, em 27 de fevereiro. Na cirurgia, a jovem colocou duas próteses de silicone de 380 ml cada, em um centro cirúrgico alugado pelo médico Pietro Petri no Hospital Misericórdia São Vicente de Paula, em Piracaia.
Segundo o advogado Carlos Henrique da Silva Cabral, que representa a família da corretora, houve negligência durante o procedimento estético. Ele alega que, minutos após a cirurgia, a mulher foi deixada sozinha no centro cirúrgico, onde teria passado mal e sofrido uma parada cardiorrespiratória.
“No prontuário médico diz que, logo após a cirurgia, que durou apenas 35 minutos, a Natacha se queixou de dor de cabeça, mas o médico teria dito que era normal. Não sabemos quanto tempo ela ficou sozinha no centro cirúrgico, mas lá, ela teve uma parada cardiorrespiratória e não se sabe quanto tempo demorou até que fosse socorrida”, pontua.
Ainda segundo o advogado, uma médica que atua no hospital foi quem socorreu e reanimou Natacha. O médico responsável pela cirurgia só teria chegado ao local quando a paciente já estava reanimada.
O advogado explica ainda que Natacha deu entrada sozinha no hospital e não havia comunicado os familiares sobre o procedimento estético. “Não foram solicitados exames cardíacos pré-operatórios. O único exame que ela fez foi um hemograma. Além disso, deveriam exigir que um acompanhante estivesse no local durante a cirurgia”, acrescenta o advogado.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) explicou que a polícia vem acompanhando o caso e testemunhas já começaram a ser ouvidas. Além disso, também foi solicitado a quebra do sigilo telefônico de Natacha, imagens e documentos do procedimento ao hospital para auxiliar no esclarecimento do fato.
“O caso foi registrado pela polícia como lesão corporal grave, mas já entrei com o pedido de mudança da tipificação, queremos que o médico responda por homicídio culposo”, acrescenta o advogado.
Natacha era mãe de três filhos, um bebê de oito meses e duas crianças de 4 e 6 anos. O corpo da corretora será enterrado na sexta-feira (11), às 11h, no cemitério de Nazaré Paulista.
O médico Pietro Petri foi o responsável pelo procedimento. A reportagem entrou em contato com ele, mas o profissional alegou estar abalado e sendo medicado e informou que não se manifestaria sobre o ocorrido.
Em nota, a defesa do médico explicou que não houve negligência por parte do profissional nem intercorrências no procedimento cirúrgico de Natacha e defendeu que as complicações apresentadas pela paciente não tiveram relação com o procedimento.
“O médico Pietro Petri lamenta muito o ocorrido, mas de maneira diversa ao alegado, não houve qualquer negligência, imprudência ou imperícia na condução do procedimento cirúrgico por ele realizado. A cirurgia em questão transcorreu sem qualquer intercorrência intraoperatória, sendo que a complicação apresentada pela Sra. Natacha Lopes Silvério não guarda relação direta com a mesma. O referido profissional esclarece que após constada a intercorrência prestou toda a assistência médica à paciente e aos seus familiares. Para maior esclarecimento, aguarda o resultado da necropsia”.
A reportagem também procurou a Sociedade Brasileira de Cirurgia plástica; no entanto, a entidade explicou que “o médico citado não faz parte da SBCP, portanto não é especialista em cirurgia plástica”.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) informou que vai investigar o caso após tomar conhecimento da situação.
“O Conselho esclarece ainda que, apesar de poder prestar atendimento, sem especialidade, desde que se responsabilize pelos seus atos, o médico está impedido de se intitular e/ou divulgar títulos de especialidade que não tenham sido devidamente registrados junto ao Cremesp”.
Segundo o Cremesp, essa não é a primeira vez que há denúncias contra o médico. O profissional foi penalizado por duas vezes, porém o Conselho não deu detalhes sobre os casos.
“O profissional possui duas penas publicadas no Diário Oficial da União (DOU) de censura pública por infringir o código de ética médica, nos Conselhos Regionais de Medicina de São Paulo e do Paraná. Por questões legais, o Cremesp só pode divulgar a pena de um profissional médico quando esta for transitada em julgado e publicada no DOU”, disse órgão em nota.
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