SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era para ser um tapete vermelho essencialmente político, mas a ideia de retornar ao mundinho cor-de-rosa pareceu mais sedutora.
Um batalhão de atrizes, atores e cantores cruzou o Dolby Theater, em Los Angeles, devidamente trajado com o arquétipo de glamour que a organização do Oscar deste ano precisava para movimentar o público cada vez mais ausente.
Ainda que as cores da bandeira ucraniana aparecessem vez ou outra nos laços pregados na lapela -e até nos dedos, como se estivessem ali para não prejudicar a montação- o estardalhaço de grifes, brilhos, volumes, nervuras, joias poderosas e plissados permeou o show que antecede a festa do cinema.
Como extensão do ofício de vender sonhos embalados em grifes, os tons calmos, rosáceos, o dourado-estatueta e as variações de lavanda tingiram o desfile de celebridades que, pela TV, pareciam felizes em exibir seus Prada, Armani Privé, Atelier Versace e Fendi, para citar, respectivamente, as escolhas de Lupita Niong’o, Nicole Kidman, Lily James e Naomi Scott.
Essas cores foram destaques das últimas temporadas de desfiles de alta-costura e prêt-à-porter. Provam que, embora despedaçada, a bolha hollywoodiana não entrega o jogo tão facilmente e está disposta a manter as aparências da máquina que paga a conta.
O “vestido de milhões” da cerimônia, o de Jessica Chastain, foi desenhado por Alessandro Michele, da Gucci. Ela, que, conforme se especulou, ameaçou até não desfilar em protesto contra o corte de oito prêmios tidos como “menores” na transmissão ao vivo, deu um recado com a escolha.
A coleção do estilista foi uma homenagem à Hollywood do passado, ao glamour hoje algo decadente que se equilibra para manter a relevância. Amor e união também inspiraram Michele, o que serviu como subtexto político para Chastain tratar da beligerância sobre a qual ninguém quis falar com todas as letras.
Este foi, em resumo, um tapete vermelho da moda pós-pandêmica. O corpo à mostra, tendência absoluta na saída da clausura, foi abraçada pelos dois queridinhos da nova constelação cinematográfica.
Thimothée Chalamet, ator principal de “Duna”, não usou nada por baixo de costume preto forrado de brilhos assinado pela Louis Vuitton. Sua companheira de cena no filme, Zendaya, “reagiu” e pôs o cropped, no look Valentino composto por blusa de alfaiataria curta e saia longa prateada.
Nos minutos finais, outro golpe de imagem. Kristen Stewart, de “Spencer”, aderiu à tendência dos terninhos onipresentes nas últimas passarelas e usou um conjunto de blazer e shorts da Chanel que era todo aberto no tronco.
Boa parte dos looks tinha a ver com algo de que a Academia e quem ainda acompanha sua festa maior sentia falta, que é o toque, o contato físico. Não foi coincidência, portanto, que as roupas trouxeram as texturas que dão tridimensionalidade ao tecido, com aplicações de pedras e o detalhismo de grifes cujas etiquetas ostentam nomes de grandes costureiros, a exemplo do Christian Lacroix vermelho usado por Kirsten Dunst e o Jean Paul Gaultier verde-esmeralda de Jada Pinkett-Smith.
Mesmo outros homens aumentaram o volume dos trajes para chamar as luzes para si. O Moschino rosa do cantor Sebastián Yatra e o Bottega Venetta azul de Kodi Smit-McPhee foram socos na ala mais tradicionalista da costura.
Soa quase cínico que, após tantas manifestações públicas de repúdio às mudanças na premiação e mensagens indignadas com a invasão russa proferidas no último SAG Awards tenham tomado as atenções da indústria, agora tudo pareça apagado em nome da cara rebocada em pancake.
Mesmo que, no dia seguinte, o rosto apareça todo borrado e derretido em críticas, Hollywood quis mostrar estar viva. E está, mas provou também não estar nem aí para nada que esteja de fora de seus domínios.
Notícias ao Minuto Brasil – Fama
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