(FOLHAPRESS) – Um atirador abriu fogo nos arredores de Tel Aviv, em Israel, e matou cinco pessoas nesta terça-feira (29) -ele foi morto logo após o ataque. É o quarto episódio do tipo nos últimos dez dias no país.
A imprensa local informou a princípio que o autor da ação seria um cidadão árabe-israelense, mas depois apontou se tratar de um homem de 27 anos da Cisjordânia e membro do Fatah, organização palestina. Segundo a mídia israelense, ele havia sido preso em 2015 por negociar armas ilegais e por ter relações com grupos terroristas e liberado seis meses depois.
Horas após o atentado, o grupo islâmico palestino Hamas divulgou um comunicado em que diz que “abençoa a heroica operação contra os soldados da ocupação sionista na chamada área Tel Aviv”. A organização também declarou que o ataque “vem no contexto da resposta natural e legítima ao terrorismo da ocupação e seus crimes crescentes contra nossa terra, nosso povo e nossas santidades”.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, por sua vez, condenou o ataque.
Testemunhas disseram que o homem atirou contra varandas de um prédio residencial de Bnei Brak, subúrbio majoritariamente judeu ultraortodoxo da cidade, e depois disparou contra pessoas que estavam na rua.
Um vídeo amador exibido por emissoras de televisão israelenses mostrou o homem vestido de preto carregando um fuzil. Ele foi morto por um policial que patrulhava, de moto, a região. Segundo a imprensa local, outras duas pessoas foram presas mais tarde, sob suspeita de terem auxiliado o atirador.
Um dos mortos foi encontrado em um carro e outras três vítimas, em calçadas próximas. A quinta vítima era um policial de 32 anos, que chegou a receber tratamento médico antes de morrer. Todos são israelenses.
Em sua conta no Twitter, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, declarou que o país “está enfrentando uma onda de terror árabe”. A polícia do país foi posta em estado máximo de alerta, o que não ocorria desde maio do ano passado, quando estouraram conflitos na Faixa de Gaza.
A mais recente ação do tipo havia ocorrido no domingo (27), quando dois terroristas de origem árabe mataram dois policiais israelenses em Hadera -a 50 quilômetros de Tel Aviv. Eles foram mortos na sequência e ao menos três pessoas ficaram feridas. O grupo Estado Islâmico depois reivindicou a autoria do ataque. Em diferentes declarações, o Hamas e a Jihad Islâmica, outro movimento palestino, aplaudiram o que chamaram de “operação heroica”.
Cinco dias antes, um ataque também foi registrado em Beersheba, no sul do país. Um cidadão de origem beduína matou quatro pessoas -uma atropelada e três a facadas- antes de ser morto por um civil armado. O episódio, até então um dos mais mortais do gênero nos últimos anos em Israel, havia sido o terceiro contra cidadãos judeus em menos de uma semana.
Neste terça, após o atentado, conforme relatou a reportagem do jornal The Jerusalem Post, era possível ouvir israelenses gritando repetidamente “morte aos árabes” e criticando o governo de Bennett, eleito em uma ampla coalizão com a participação de um partido árabe.
As autoridades de Israel estão em alerta para o aumento das tensões entre árabes e israelenses em abril, mês sagrado para os muçulmanos (por causa do Ramadã), judeus (por causa do feriado de Pessach) e cristãos (da Páscoa). Os conflitos do ano passado em Gaza, por exemplo, ocorreram nessa época.
O atentado desta terça acontece também na véspera do Dia da Terra, data em que os palestinos relembram a morte de seis árabes durante protestos contra Israel em 1976. Na época, os manifestantes repudiavam a decisão do governo israelense de expropriar áreas habitadas por árabes na região.
O aumento da frequência de ataques terroristas no Estado de Israel pode também estar ligado ao fortalecimento das relações institucionais entre Israel e países árabes, o que é malvisto por grupos como o Estado Islâmico e o Hamas, aponta o diretor do Instituto Brasil-Israel, Daniel Douek.
“A gente não pode encarar esses ataques como um sinal de que as relações oficiais entre Israel e Palestina estão enfraquecidas. É quase o contrário: quanto mais fortalece o relacionamento no nível institucional, mais grupos que são contrários a esse relacionamento reagem”, afirma.
Na segunda (28), por exemplo, o chanceler israelense, Yair Lapid, recebeu no país seus homólogos dos Emirados Árabes, Bahrein, Egito e Marrocos. Participou ainda do encontro o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Na reunião, as autoridades conversaram sobre um acordo nuclear com o Irã -adversário geopolítico de todos os países presentes- e a necessidade de pacificar a relação entre Israel e Palestina.
“Esses países entenderam que a questão palestina se tornou secundária perante a uma ameaça do Irã. Paralelamente, a questão palestina não desaparece, então é muito sintomático que esses ataques aconteçam ao mesmo tempo desse desdobramento diplomático”, diz Douek.
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