(FOLHAPRESS) – Quase 60 anos depois da estreia de Chico Buarque, gravações pouco conhecidas dele, inclusive do período inicial da trajetória do artista, seguem sendo reveladas para o público. Nesta terça (5), a Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, disponibiliza em seu site 17 faixas nunca lançadas em álbuns de carreira do cantor e compositor.
Sem prejuízo pela falta de inéditas, a playlist intitulada “Chico Buarque – Raridades Analógicas” foi organizada pelo jornalista e pesquisador musical Renato Vieira e contou com digitalização da colecionadora Jennifer de Paula.
São registros lançados entre os anos de 1966 e 1989 em coletâneas, trilhas de novelas e compactos raros. Boa parte não chegou a ser lançada em CD nem posteriormente nas plataformas digitais.
De todas as gravações, a menos conhecida é “Tão Bom que Foi o Natal”, de dezembro de 1967, que saiu num compacto promocional distribuído na época para os clientes da imobiliária Clineu Rocha.
O samba ingênuo, mas com divisão rítmica interessante, foi composto na fase inicial de Chico Buarque e tem uma leveza oposta à tradição do cancioneiro brasileiro natalino -como, por exemplo, a triste “Boas Festas”, de Assis Valente. Ainda que indiretamente, remete a duas gravações feitas por João Gilberto, “Presente de Natal”, de Nelcy Noronha, e o baião “Bim Bom”.
O restante do conjunto é constituído basicamente por composições bastante conhecidas do compositor. Tratam-se, porém, de gravações alternativas, ou seja, diferentes das que acabaram entrando nos discos oficiais do artista.
São os casos de “A Banda”, por exemplo, pinçada de um compacto duplo da RGE com arranjo de banda tradicional. Também de “Até Pensei”, em sua primeira versão, distinta da que ficou conhecida no álbum “Chico Buarque de Hollanda – Volume 3”.
“As músicas são conhecidas, mas as versões são alternativas. Algumas não estavam nem catalogadas. A tendência era que este material ficasse perdido. A ideia foi fazer o resgate dessas músicas com algo que pudesse surpreender mesmo quem já conhece muito a obra do Chico”, comenta Renato Vieira.
Ainda no grupo das canções gravadas na década de 1960 estão “Noite dos Mascarados” e “Meu Refrão”, ambas produzidas por Manoel Barembein e interpretadas em dueto por Chico e por Odette Lara. As duas foram registradas num compacto simples e faziam parte de uma apresentação dos dois artistas na boate Arpège, no Leme, no Rio de Janeiro, em 1966.
Já o samba “Bom Tempo” aparece em gravação ao vivo no teatro Toneleros, também no Rio de Janeiro, e foi extraído do álbum “Discomunal”, lançado em 1968. De caráter documental, o registro é um dos primeiros encontros de Chico e Tom Jobim, ao piano, nos palcos. Nele, a dupla é acompanhada pelo conjunto vocal Quarteto 004.
A playlist conta também com “Tanto Mar”, com letra original censurada no Brasil e lançada num compacto apenas em Portugal, e “Tantas Palavras”, em versão que fez parte da trilha sonora da novela “Sabor de Mel”, da TV Bandeirantes, em 1983. A parceria de Chico e Dominguinhos foi feita para o cantor Roberto Carlos, mas, no fim, ele acabou não gravando a canção.
Há ainda registros ao vivo de “O Que Será” e de “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, esta última em duo ao lado de Fagner, realizados na Nicarágua em 1983 e lançados anteriormente no disco “Abril en Manágua – Concierto de la Paz en Centroamerica”.
O repertório disponibiliza online também versões alternativas de clássicos como “Apesar de Você”, “Jorge Maravilha” -assinada por Julinho de Adelaide, pseudônimo usado por Chico para escapar da censura na ditadura militar-, “Tem mais Samba” -com arranjo do maestro Lindolpho Gaya- e “Carolina”, com acompanhamento do conjunto Época de Ouro, arranjo e regência do acordeonista Orlando Silveira.
“Essa playlist é também uma homenagem a esses arranjadores e produtores que ficavam nos bastidores e que estiveram ao lado do Chico nessa caminhada discográfica”, comenta Vieira.
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