JULIA CHAIB, IDIANA TOMAZELLI E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLI, DF (FOLHAPRESS) – O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, apresentou ao presidente Jair Bolsonaro (PL) críticas à política de preços da Petrobras antes de ser escolhido para o cargo, o que, segundo aliados, contribuiu para sua indicação.
Embora não defenda medidas de intervenção direta nos preços, como a concessão de subsídios, Sachsida levou a Bolsonaro argumentos de que a Petrobras contabiliza custos de importação em seus cálculos, apesar de boa parte do combustível comercializado pela companhia ser refinado no Brasil.
A prática ajudaria a explicar o lucro polpudo da Petrobras nos últimos períodos. Após um resultado recorde de R$ 106,6 bilhões em 2021, a companhia lucrou R$ 45,5 bilhões apenas no primeiro trimestre deste ano.
Segundo aliados de Bolsonaro, a visão do então assessor da Economia –bolsonarista de carteirinha e alinhado ao presidente desde a época da campanha– agradou ao chefe do Executivo ao corroborar sua ideia de que há problemas na política adotada pela Petrobras.
Como mostrou a Folha, as críticas à política de preços da companhia existem dentro da equipe econômica e vêm de diferentes técnicos, mas são feitas de forma reservada devido à sensibilidade do tema.
A metodologia leva em conta a cotação de referência do combustível no mercado global, o preço do frete para trazê-lo ao Brasil, o seguro da carga e tributos cobrados sobre a navegação.
A companhia usa a referência internacional porque não consegue atender a toda a demanda nacional de combustíveis e importa parte do que vende ao mercado doméstico.
Para a equipe econômica, a inclusão dos custos de importação encarece os preços cobrados pela estatal e amplia sua margem de lucro, enquanto os gastos efetivos da empresa são menores quando o produto é refinado no Brasil.
Para integrantes do time de Guedes, o mais adequado seria a Petrobras considerar preços FOB (“free on board”, livre de custos de frete ou seguro) no cálculo de quanto cobrar internamente, pois essa seria a remuneração obtida caso a petrolífera exportasse seu combustível.
Membros da Economia torcem por uma atuação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que tem uma apuração em curso sobre o tema e prometeu acelerar o ritmo de investigações.
O Cade, no entanto, não pode interferir diretamente na política de preços –embora tenha poder para aplicar multas ou exigir o abandono de práticas caso chegue à conclusão que elas são abusivas.
Ainda que as apurações do Cade não produzam alguma medida efetiva, a avaliação no governo é a de que a postura de Sachsida ao tocar as discussões pode servir ao discurso de Bolsonaro de que ele não tem culpa no aumento dos preços de combustíveis aplicados pela Petrobras.
A comunicação em torno desse assunto é considerada um dos nós a serem desatados pelo governo.
Aliados do presidente buscam desvinculá-lo dessa pauta devido ao peso negativo que ela pode ter na campanha eleitoral. Segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro pretende buscar a reeleição para o Palácio do Planalto.
A troca do comando do MME também serve a esse propósito. Pessoas próximas a Bolsonaro avaliam que a principal intenção do chefe do Executivo foi tentar apontar um culpado para a alta dos preços, no caso, Bento Albuquerque, agora ex-ministro de Minas e Energia, e a própria Petrobras.
Sachsida foi alçado ao posto de titular da pasta após Bolsonaro se irritar com mais um aumento nos preços do diesel, anunciado pela companhia na última segunda-feira (9).
O atual presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, assumiu o cargo há menos de um mês, após uma série de idas e vindas envolvendo a sucessão de Joaquim Silva e Luna –demitido do comando da companhia na esteira de um mega-aumento nos preços de combustíveis em março.
Coelho foi indicado por Bento Albuquerque, que, após o novo aumento, acabou entrando na mira do presidente em uma operação descrita por aliados governistas como uma “troca de fusível” para aplacar os desgastes.
Um agravante à manutenção de Albuquerque no cargo foi o fato de o seu apadrinhado ter feito o anúncio do reajuste pouco depois da divulgação do lucro da empresa, classificado pelo presidente como “estupro”.
Bolsonaro já manifestou o desejo por uma solução rápida para reduzir o preço dos combustíveis. Uma saída defendida por integrantes do centrão é dar um subsídio temporário ao preço do diesel, que beneficie exclusivamente caminhoneiros –categoria que integra a base de apoio ao presidente e tem ameaçado com paralisações.
A Economia, porém, mantém sua posição de resistir a esse tipo de política, por considerá-la cara e ineficiente. Nesse contexto, aliados de Guedes avaliam que o ministro da Economia agora ganha um reforço importante na trincheira dessa disputa.
Se antes Guedes brigava sozinho para barrar medidas com impacto nos cofres do Tesouro Nacional, agora ele conta com um ministro aliado para reforçar essa posição.
Em seu primeiro ato à frente do MME, Sachsida anunciou um pedido formal de início dos estudos para privatizar a Petrobras. Na declaração à imprensa, ele fez questão de destacar que conta com apoio de Bolsonaro para sua gestão.
“Tenho uma meta e um norte muito simples. Deixo claro que essa meta, esse objetivo e esse norte foram expressamente apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro”, afirmou o novo ministro.
Técnicos que acompanham o tema afirmam, porém, que essa é uma operação difícil de ser concluída. Na avaliação de uma fonte com conhecimento do setor, mesmo em um cenário com muita convergência política, a privatização demoraria ao menos cinco anos para ser concluída.
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