SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O médico ucraniano Vladimir Zelenko, radicado nos Estados Unidos, que ficou famoso por influenciar o então presidente americano Donald Trump a defender o uso de hidroxicloroquina, combinada com azitromicina e zinco no tratamento contra a Covid-19, morreu aos 48 anos nesta quinta-feira (30), em Dallas. A informação é do jornal The New York Times.
De acordo com a publicação, a mulher de Zelenko afirmou que ele estava internado com câncer no pulmão.
Zelenko, que se apresentava com um simples médico do interior, ganhou fama nos Estados Unidos em março de 2020 depois de gravar um vídeo endereçado a Trump, e o publicar em seu canal no YouTube.
No vídeo, que foi removido por violar as regras da plataforma, Zelenko contava em detalhes uma “experiência” que vinha desenvolvendo em Kiryas Joel, uma comunidade de 35 mil habitantes no estado de Nova York, onde cuidava de seus pacientes, sugerindo a combinação de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco a ser usada em infectados de grupos de risco pelo novo coronavírus.
Na época, o médico afirmou ter tratado 700 pessoas com o kit Covid. Desses, seis precisaram de internação, sendo que dois evoluíram para um quadro de pneumonia, dois necessitaram de intubação e um morreu. A vítima morta, segundo alegou médico, havia abandonado o tratamento.
Em uma entrevista ao ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, Rudolph Giuliani, o médico defendeu que o tratamento reduzia o risco de internação e deve ser receitado apenas para pessoas com mais de 60 anos ou com doenças crônicas, por causa dos efeitos colaterais das drogas.
Trump chegou a chamar o tratamento de “muito eficaz” e de possivelmente “o maior divisor de águas na história da medicina”. A tese se propagou entre negacionistas dos EUA e de outros países, inclusive no Brasil.
Em março de 2021, especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) concluíram que a hidroxicloroquina não deve ser usada no tratamento precoce da Covid-19.
Notícias falsas publicadas no ano passado afirmaram que Zelenko havia sido incluído em um grupo de médicos indicados ao prêmio Nobel da Paz por seu papel no tratamento da pandemia.
A fake news viralizou na época em redes sociais, inclusive entre os defensores do uso de kit Covid no Brasil.
Durante a gestão do governo Jair Bolsonaro (PL) na crise sanitária imposta pela Covid-19, o presidente brasileiro, em inúmeras ocasiões, defendeu o uso de remédios sem eficácia comprovada para combater a doença, notadamente a cloroquina, a hidroxicloroquina e a ivermectina.
A insistência do mandatário nesse ponto, inclusive, rendeu pedidos de impeachment por crime de responsabilidade contra a saúde pública, além de uma notícia-crime por charlatanismo.
Diversos estudos já publicados em revistas científicas atestaram que o chamado “kit Covid” não possui qualquer eficácia no combate ao vírus e, pelo contrário, provoca efeitos colaterais graves no paciente.
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