SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 2ª região decidiu na tarde desta quarta-feira (29) julgar abusiva a greve dos motoristas e cobradores de São Paulo devido ao não atendimento dos serviços essenciais. Com isso, foi determinando o retorno imediato da circulação dos ônibus na cidade.
No início da noite, o Sindmotoristas, que representa a categoria, determinou o fim da paralisação. Mas somente no início desta quinta (30) os ônibus devem voltar a circular normalmente pela capital.
Segundo o sindicato, muitos profissionais moram longe das garagens e, exatamente pela falta de ônibus nas ruas, encontraram dificuldades para chegar ao trabalho.
Além de obrigar o retorno imediato, o TRT determinou o pagamento de multa de R$ 100 mil referentes às paralisações dos dias 14 e desta quarta, ambas consideradas abusivas. Caso motoristas e cobradores não voltassem ao trabalho, a multa seria de mais R$ 100 mil por dia.
Os desembargadores autorizaram também o desconto dos dias de trabalho em que ocorreram as paralisações. O valor das multas será revertido às instituições O Arcanjo, do padre Júlio Lancellotti, e Associação Beneficente Benedito Pacheco (ambas prestam assistência a pessoas em situação de rua).
No último dia 14, motoristas e cobradores de 713 linhas que circulam pelos grandes corredores e região central ficaram parados por cerca de 16 horas.
A greve de duas semanas atrás só foi suspensa depois que a categoria conseguiu 12,47% de reajuste nos salários, retroativo a maio, o que foi mantido durante a audiência desta quarta. Entretanto, na ocasião, não houve resposta para outras reivindicações -hora de almoço remunerada e pagamento de PLR (Plano de Lucros e Resultados). Por isso, a decisão de parar de novo nesta quarta.
A SPTrans obteve em 31 de maio uma decisão liminar na Justiça do Trabalho que determina a manutenção de 80% da frota operando nos horários de pico e 60% nos demais horários, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. A estatal disse que vai cobrar o valor.
Presidente licenciado do Sindmotoristas, Valdevan Noventa, afirmou que, apesar da determinação judicial de retorno imediato ao trabalho, a categoria teve conquistas ao longo da paralisação. “Saímos vitoriosos. É histórico você receber 100% das horas-extras”, disse.
Para ele, as duas reivindicações que motivaram a paralisação desta quarta ainda estão em aberto e devem ser questionadas nos embargos de declaração (quando se pede explicações, baseado no que será publicado no acórdão) ao TRT.
A paralisação começou ainda na madrugada de quarta, afetando 675 das 1.193 linhas diurnas existentes na cidade. Com isso, 6.008 ônibus, que transportariam 2,5 milhões de passageiros ao longo do dia, ficaram parados -todos os dados são da SPTrans.
Diante da greve dos ônibus, a prefeitura suspendeu o rodízio municipal de veículos. Com isso, os carros com placas com final 5 e 6 puderam circular. As faixas exclusivas e os corredores de ônibus também foram liberados.
O município informou que o rodízio segue suspenso nesta quarta, mesmo com o fim da greve. Na quinta, ele volta a funcionar normalmente -carros com placas que terminam em 7 e 8 não vão poder circular nos horários e áreas com restrição, portanto.
Quem depende de transporte público sofreu pela manhã com empurra-empurra, espera e raiva. Com uma bengala e um saquinho com resultados de exames nas mãos, encostado na grade do lado de fora do terminal Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, o aposentado Antônio Augusto dos Santos, 67, olhava a enorme fila à sua frente nos pontos de ônibus da avenida Itaberaba.
Surpreendido pela greve, ele não sabia como iria chegar no médico na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na zona oeste. Uma opção era pegar um micro-ônibus que para nos pontos do terminal e seguir para as estações Santana e Barra Funda do metrô. Depois, teria de buscar outro transporte.
“Mas eu tenho problema no joelho e não dá para enfrentar a multidão”, afirmou ele, que chegou por volta de 6h ao local. A consulta médica estava marcada para as 9h.
O frentista Jackson da Costa, 28, filmou a fila com mais de cem pessoas em frente a dois pontos para provar ao chefe que não iria conseguir chegar às 7h no posto de combustíveis na Casa Verde, também na zona norte.
“Não dá para subir”, afirmava na ligação por vídeo. Ele não fazia ideia de quando conseguiria embarcar.
Por volta das 7h, nos pontos próximos ao Terminal Casa Verde, a situação era pior. Os poucos ônibus que passavam na avenida Engenheiro Caetano Álvares chegavam completamente lotados.
O vendedor Ricardo Prates, 34, completou meia hora de espera em vão no empurra-empurra do mesmo ponto de ônibus. “Dá muita raiva”, afirmou ele que precisaria chegar às 8h na concessionária de veículos onde trabalha no centro.
A encarregada hospitalar Cláudia Barbosa, 44, nem sabia direito há quanto tempo estava sentada em um banco no terminal Grajaú, na zona sul de São Paulo, à espera da última condução que a levaria para casa pela manhã.
Normalmente, ela pega um ônibus para voltar do trabalho, na região central, até o Grajaú, onde embarca em outro coletivo para Rio das Pedras, já na zona sul. Mas nesta quarta-feira precisou enfrentar metrô e trem da linha 9-esmeralda para chegar até ali.
“Em dia normal eu chego em casa às 8h30”, disse ela que só conseguiu entrar no ônibus que finalmente a levaria embora às 9h30.
Para piorar, Barbosa, que sai às 7h após o turno no trabalho, teve de esperar a pessoa que ficaria no seu lugar, atrasada pela falta de ônibus. “E ainda tive que pagar uma passagem a mais.”
A auxiliar de limpeza Andrea Henrique se negou a tentar pegar ônibus lotado por causa da Covid-19. “A doença está aí”, afirmou. Ela tentava pedir um carro de aplicativo longe do ponto para tentar ir ao trabalho no Bom Retiro, região central. “Mas já faz cinco minutos que estou aqui e nenhum motorista aceita corrida.
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