(FOLHAPRESS) – O Telescópio Espacial Hubble bateu mais um recorde, ao registrar a estrela mais distante já vista. Ela pertence a uma galáxia cuja luz partiu de lá apenas 900 milhões de anos depois do Big Bang, o evento que deu origem ao Universo como o conhecemos hoje.
Em circunstâncias normais, é impossível observar estrelas individuais mesmo em galáxias mais próximas. O resultado só foi possível por conta de um efeito previsto pela relatividade geral de Albert Einstein, as lentes gravitacionais.
O físico alemão concluiu que objetos com alta massa que se interpõem entre nós e outros mais distantes podem desviar os raios luminosos pela gravidade, agindo efetivamente como uma imensa lente no espaço, capaz de distorcer e amplificar a luz no seu caminho até nós.
A tal galáxia se localiza “atrás” de um enorme aglomerado galáctico catalogado como WHL0137-08. Notou-se que ela aparecia como um grande arco -um dos vários estudados pela Relics (sigla para Pesquisa de Lenseamento de Aglomerados da Reionização), programa que usou imagens do Telescópio Espacial Hubble para estudar 41 aglomerados galácticos que produzem lentes gravitacionais.
O novo achado identificou que no ponto mais intenso da lente, onde havia maior magnificação, estava localizada uma estrela dessa galáxia de fundo, agora designado WHL0137-LS, astro que os pesquisadores liderados por Brian Welch, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, apelidaram de Earendel, palavra do inglês arcaico que significa “estrela da manhã” ou “luz ascendente”. Imagens posteriores do mesmo objeto mostraram que essa magnificação persistiu por 3,5 anos.
O fenômeno tornou a estrela mais de mil vezes mais brilhante do que de fato é, o que permitiu um estudo inicial a seu respeito. Os astrônomos não sabem ainda se Earendel é um astro solitário ou binário, mas estimaram sua massa em mais de 50 vezes a do Sol. É um tamanho colossal, mesmo para estrelas de alta massa, o que indica que podemos estar diante de um exemplar que remete muito mais às primeiras estrelas a se formarem no Universo (que, segundo os modelos, deveriam ser bem maiores) do que às equivalentes modernas.
Também foi possível determinar que se trata da estrela mais distante, portanto mais antiga, já observada. Afinal, quanto mais longe um objeto, maior o tempo que a luz dele leva para chegar até nós. No caso em questão, a luz viajou por 12,9 bilhões de anos antes de ser detectada pelo Hubble, o que coloca a imagem como um retrato fiel de uma estrela nascida e criada apenas 900 milhões de anos após o Big Bang (estima-se que o Universo tenha 13,8 bilhões de anos).
O novo achado bateu o recorde anterior, de 2018 e também do Hubble, por larga margem. Antes de Earendel, a estrela mais antiga já observada datava da época em que o cosmos tinha 4 nilhões de anos de idade.
A melhor notícia, contudo, é a longevidade do lenseamento, que se manteve por pelo menos 3,5 anos e deve durar mais um pouco, a tempo de o Telescópio Espacial James Webb, recém-lançado e prestes a entrar em operação, poder observá-la. Em seu artigo publicado no periódico Nature, Welch e seus colegas destacam que, com o novo observatório, será possível confirmar a detecção do Hubble e até mesmo estudar a composição e o tipo espectral da estrela. Terminam, por sinal, destacando que essas observações serão logo feitas, pois o pedido para uso do Webb com esse fim já foi aprovado.
“Earendel existiu tanto tempo atrás que pode não ter tido toda a mesma matéria-prima que as estrelas ao nosso redor têm hoje”, diz Welch. “Estudá-la será uma janela para uma era do Universo com que não temos familiaridade, mas levou a tudo que conhecemos. É como se estivéssemos lendo um livro muito interessante, mas começamos pelo segundo capítulo, e agora teremos a chance de ler como tudo começou.”
Ou seja, o melhor sobre Earendel está por vir. E podemos apostar que o Webb tem tudo para bater esse recorde e encontrar estrelas ainda mais distantes e primitivas no futuro próximo.
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