SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio ao surto de casos de varíola dos macacos na Europa, o analista de marketing Vinícius Aleixo, 30, fez uma viagem de três semanas pelo continente. “Turistei bastante lá”, afirma. Holanda, Inglaterra e Alemanha foram países onde ele esteve.
Vinícius suspeita que foi nesse período que se infectou com o monkeypox, vírus que causa a varíola dos macacos. A doença já tem mais de 5.000 casos confirmados em todo o mundo, segundo a agência Reuters.
No Brasil, o Ministério da Saúde disse nesta sexta-feira (1º) que já são 48 – e um deles é Vinícius.
Morador da capital paulista, ele voltou para o Brasil em 18 de junho. Nos primeiros dias no país, o analista de marketing começou a sentir dores no corpo, cansaço, mal-estar e muito sono, mas nem imaginou que poderia ser monkeypox. “Quando teve o boom do lance de varíola dos macacos, não estava muito ligado no que estava acontecendo”, diz.
No último dia 20, bolinhas começaram a surgir pelo seu corpo. De início, foram quatro feridas. “Pareciam mais picadas de mosquitos, mas achei meio suspeito porque apareceram sincronizadas.”
Com as feridas, ele foi a um médico. A varíola dos macacos, no entanto, não foi cogitada. Os profissionais imaginaram que poderia ser alguma irritação na pele e receitaram um antibiótico. Vinícius começou o tratamento no dia seguinte, no dia 21.
As feridas continuaram crescendo nos próximos dias. “Comecei a achar muito estranho porque eu comecei a tomar remédio para melhorar ao invés de piorar”, conta. O momento em que ele ficou mais incomodado foi na sexta (24) quando surgiu uma das bolhas na ponta do seu nariz.
“Aí bateu o desespero”, diz. No mesmo dia, ele procurou um pronto-socorro, mas o atendimento não conseguiu ajudar tanto. No sábado (25), foi a uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial). Lá, foi feito uma bateria de exames, que ficariam prontos só na outra semana.
Até então, Vinícius conta que não achava estar necessariamente com a varíola dos macacos. “Eu não cogitei nada. Deixei em aberto. Só queria que algum médico me avaliasse melhor”, conta.
Mas foi na AMA que um profissional de saúde disse a Vinícius que ele poderia procurar o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, um hospital em São Paulo especializado em tratamento de doenças infecciosas. Na segunda (27), Vinícius seguiu esse conselho.
“No Emílio Ribas, eles me jogaram em uma sala e um médico veio conversar comigo. Ele fez um rastreamento de onde estive. Olhou minhas lesões e colheu a crosta de uma delas e a secreção”, conta.
Vinícius explica que o médico contou em média 12 feridas em todo o seu corpo, mas só uma delas, localizada na mão, estava protuberante e com secreção.
O material foi encaminhado para diagnóstico da varíola dos macacos e no mesmo dia Vinícius entrou em isolamento, mesmo sem ter o resultado.
O diagnóstico definitivo para a suspeita veio na quarta (29). Desde então, Vinícius já recebeu a visita de três profissionais de saúde de uma UBS (Unidade Básica de Saúde), localizada na região da sua casa, que fica perto ao Ipiranga, em São Paulo.
“Elas vieram olhar as lesões, principalmente a da mão. Também me deram instruções da melhor forma de fazer isolamento, perguntaram onde estive na Europa, o que eu fiz, quem eu encontrei”, afirma.
O jovem está isolado em seu quarto. Um esquema foi montado para não infectar os familiares -ele mora com a mãe, duas gatas e, no andar de baixo, mora a avó e a madrinha. Objetos como talheres e copos, por exemplo, não são compartilhados.
Por enquanto, ele não sente muitos sintomas. As lesões não doem, com exceção de uma no pé que, em alguns casos, gera certo incômodo quando pisa no chão. Em certas ocasiões, ele sente fadiga e calafrios. “Às vezes, eu estou parado e me vem um cansaço muito forte como se tivesse corrido uma maratona.”
Uma dúvida que ainda resta é da situação onde ocorreu a infecção. “Eu fiquei três semanas na Europa e saí bastante. Vi muita gente”, conta.
Mas algo pode ser um indicativo. Vinícius diz que um amigo residente da Alemanha hospedou ele em sua casa e também recebeu teste positivo para a varíola dos macacos. Na hipótese apontada por Vinícius, ele e seu amigo foram infectados no mesmo local.
Mesmo assim, a dúvida impera. “Eu até parei para pensar se conseguia desconfiar de quando foi, mas não tenho a menor ideia.”
Agora, Vinícius espera saber quando sairá do isolamento. De início, ele teria um atestado de 15 dias de trabalho, mas o médico que o atendeu no Emílio Ribas disse que o afastamento será prolongado para 30 dias.
“Pelo que falaram, eu paro de transmitir quando a última casquinha da última ferida cair, mas não me deram uma previsão de quando isso vai acontecer.”
Reações inesperadas Vinícius postou no Twitter o diagnóstico positivo para varíola dos macacos. “Eu cometi esse erro”, brinca o analista de marketing.
Depois disso, reações diversas surgiram. “Teve gente fazendo piada, outros desesperados falando que dessa década a gente não passa. Outras pessoas vieram tentar me acalmar e desejar melhoras”, relata.
Alguns perguntaram ao analista de marketing se ele esteve presente em determinados eventos. Vinícius diz que isso aconteceu porque as pessoas queriam saber se corriam o risco de ter tido contato com alguém positivo para a doença.
“As pessoas pareceram mais preocupadas [com varíola dos macacos] do que com Covid”, diz.
Ele acredita que essa preocupação ocorre porque a varíola dos macacos tem ligações com sintomas físicos, como as bolhas que podem surgir na pele e deixar manchas. “As pessoas ficaram com medo de pegar varíola dos macacos e ficar com a cara cheia de perebas, o que pelo menos não aconteceu comigo.”
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