SARA BAPTISTA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Três mulheres negras que falavam em uma palestra virtual sobre preconceito racial foram alvo de ataques racistas. O evento foi invadido por perfis não identificados que compartilharam um vídeo de gorilas dançando.
“Por mais que a gente passe por essas coisas todos os dias, quando é uma coisa nova sempre choca”, disse Letícia Pinho, estudante de jornalismo na Unesp e mediadora da mesa.
Além de Letícia, a historiadora e mestranda em mídia e tecnologia Laryssa Gomes e a professora doutora da Faculdade de Ciências da Unesp Andresa de Souza Ugaya eram as convidadas.
A palestra foi organizada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social de Bauru, pela Secretaria de Saúde de Bauru e pelo Conselho Municipal de Políticas Públicas para a Mulher. O evento fazia parte de uma semana dedicada a conscientização sobre a não violência contra a mulher.
O evento virtual começou às 14h no dia 26 de novembro. Logo nos primeiros minutos, quando cerca de 15 pessoas acompanhavam a transmissão, três perfis, que foram identificados pelas palestrantes como falsos, entraram na sala da videoconferência e um deles, com nome de “Maria Clara”, começou a compartilhar a própria tela e mostrar um vídeo de três gorilas dançando.
“Para mim foi muito simbólico ser uma mesa com três mulheres e ser três gorilas dançando no vídeo”, disse Letícia a reportagem.
A mediadora conta que na hora ficou sem reação. Andressa pediu para que a pessoa se retirasse, o que acabou acontecendo depois de alguns minutos.
Após o incidente, o tema da palestra até se adaptou: “A gente tinha se organizado para falar sobre racismos cotidianos, mas na hora, a gente acabou até mudando o foco, porque ficou todo mundo meio chocado”, afirma Letícia.
Mais de uma hora depois, já no final do evento, os mesmo perfis voltaram a entrar na sala e, novamente, o perfil Maria Clara compartilhou a tela. Desta vez, foi compartilhada uma imagem e o hino do Flamengo. Para as palestrantes, esta foi uma referência ao urubu, mascote do time, em outra ação racista.
“A gente sofre isso o tempo todo e nem sempre as pessoas dão atenção. Só quando você presencia é que você percebe quão grave é. Foi uma forma delas [as pessoas que estavam presentes] verem o que a gente passa”, disse Letícia.
O evento era gratuito e aberto ao público e o link para a sala de reuniões virtual foi divulgado junto com o anúncio da palestra.
As palestrantes realizaram um boletim de ocorrência eletrônico, ao qual a reportagem teve acesso, que foi encaminhado para a delegacia da área.
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