PAULO EDUARDO DIAS E FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A menina Raquel Antunes da Silva, 11, que morreu na sexta-feira (22) após um acidente na dispersão do sambódromo no Rio de Janeiro, na abertura do Carnaval na Marquês de Sapucaí, não era a única criança que brincava no carro alegórico estacionado na rua Frei Caneca, após o desfile, segundo a investigação policial.
A informação de que mais crianças subiram no veículo foi confirmada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro neste sábado (23). Em nota, a instituição disse que as investigações estão em andamento, com foco na análise de imagens de câmeras de segurança da região.
“As imagens mostram outras crianças brincando no carro alegórico”, afirmou trecho da nota. Questionada, a polícia disse que ainda não tinha informação de quantas crianças eram.
Segundo a polícia, vídeos gravados por câmeras próximas ao local do acidente estavam sendo analisadas pelos policiais neste sábado.
O caso é investigado como homicídio culposo, ou seja, sem intenção de matar, de acordo com a polícia.
À TV Globo, a delegada Aparecida Mallet disse que a situação contradiz a versão do condutor do veículo, que afirmou em depoimento não ter presenciado crianças no local.
“O motorista do carro alegórico disse que não viu a ocorrência de crianças em cima do carro alegórico. Pelo que eu pude analisar a princípio, do vídeo, havia várias crianças em cima do carro alegórico, não só a vitimada”, afirmou a policial à TV.
Raquel teve as pernas prensadas entre um carro alegórico da escola de samba Em Cima da Hora e um poste na rua Frei Caneca, no fim da noite de quarta-feira (20). Ela foi internada no Hospital Municipal Souza Aguiar em estado gravíssimo e teve uma perna amputada, mas não resistiu e morreu às 12h10 de sexta.
Horas depois da confirmação da morte, a pastora Aline da Mota, da igreja Assembleia de Deus no Morro de São Carlos, frequentada pela família da menina, disse que no dia do acidente, a mãe de Raquel a levou para brincar em uma praça e que uma “coleguinha a chamou para brincar em uma pracinha em frente”.
Em 20 minutos, no máximo, uma coleguinha dela veio dizer que a Raquel tinha sofrido um acidente”, afirmou à reportagem a pastora. Segundo ela, a menina subiu no carro alegórico para tirar fotos e se sentou nele. “Não havia segurança alguma.”
O enterro da menina ocorreu na tarde deste sábado, no cemitério do Catumbi, no centro do Rio. Familiares chegaram ao local com uma camisa com a foto de Raquel e os dizeres: “Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós”.
Após a tragédia, ainda na noite de quarta, o desfile das escolas chegou a ser interrompido para a realização de perícia no local.
Depois do acidente, a pedido do Ministério Público, a Justiça fluminense determinou que todas as escolas do grupo de acesso, especial e mirins façam a escolta de seus carros até seus barracões. A decisão foi do juiz Sandro Espíndola, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital.
De acordo com a Promotoria, o desfile desta quarta violou normas que haviam sido determinadas pela Justiça com antecedência. Em março deste ano, o MP do Rio diz ter enviado aos organizadores do evento recomendações.
“Providenciar seguranças aos carros alegóricos para evitar que crianças e adolescentes se coloquem em riscos, especialmente, nos momentos de concentração e dispersão das escolas de samba”, diz um dos itens do documento.
O prefeito Eduardo Paes (PSD) publicou que a morte de Raquel “deixa um grande sentimento de tristeza”. “Vamos acompanhar de perto a investigação policial que apura as responsabilidades e estamos, através de nossa secretaria de Assistência, dando apoio aos familiares”, escreveu nesta sexta.
O governador Cláudio Castro (PL) também manifestou em nota solidariedade aos parentes e disse que desde esta quinta o Governo do Rio está prestando assistência psicológica aos familiares da menina por meio da Secretaria de Estado de Assistência à Vítima.
As ligas das escolas de samba Liga-RJ e Liesa se solidarizaram com a família e afirmaram, em nota conjunta, que a criança “subiu no carro alegórico fora do sambódromo, na rua Frei Caneca, no Estácio, após deixar a área de dispersão”.
“Equipes das Ligas e da Escola acompanham o caso na unidade hospitalar ao lado da família desde o primeiro instante e também colaboram com as autoridades. Nesse momento, é preciso esperar a apuração da perícia e autoridades para novos esclarecimentos”, afirmaram.
Procurada por email e por suas redes sociais para dizer se havia segurança no carro alegórico, a escola Em Cima da Hora não havia respondido até a publicação desta reportagem.
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