Município de MT pode dobrar área plantada sem desmatar e se tornar líder mundial na produção de soja

O município de Paranatinga,  que fica 373 km ao Sul de Cuiabá,  ocupa o topo do ranking de crescimento de produção de soja em Mato Grosso e tem se tornado o novo eldorado no setor.

O crescimento foi superior a 372 mil toneladas nos últimos cinco anos, conforme dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

A transformação do campo, que passou a ter áreas de pastagem ocupadas por lavouras de soja, reflete diretamente na economia local. Neste mesmo período, de acordo com o prefeito Josimar Marques Barbosa, a arrecadação triplicou.

O sucesso dessa expansão, segundo os próprios produtores, se dá porque o município oferece vastas áreas de terra, já abertas, que podem se tornar lavouras de soja. Com isso, Paranatinga tem atraído produtores de todo o país, querendo aumentar a produção.

O agricultor Marcos Navroski faz parte dessa estatística de crescimento dos últimos anos. Ele e a família se mudaram de Santa Catarina para Paranatinga em 2020, onde passaram a produzir soja.

Marcos Navroski e a esposa Juliana Glinski se mudaram com a família de Santa Catarina para Paranatinga em 2020

“Eu vi que essa era uma região que ainda tinha bastante terra para aumentar a produção e de a gente conseguir mais área. Essa foi a ideia”, relata.

No Sul, Marcos e a família produziam 150 hectares de soja e também plantavam melancia, feijão e abóbora para ter lucro. “Lá eu tinha que diversificar para conseguir uma renda maior”, conta.

Finalizando a colheita de sua terceira safra de soja em Paranatinga, ele destaca o surpreendente crescimento em três anos.

“Aqui, arrendei a primeira fazenda e comecei com 630 hectares já no primeiro ano e, no segundo ano, aumentou para 740 hectares. Agora, na terceira safra, já temos 1.550 hectares. Estamos quase finalizando a colheita e vamos aumentar. A ideia é chegar a 2,5 mil hectares”, ressalta.

Em Paranatinga, além da soja, ele também produz milho e gergelim.

Em Santa Catarina Marcos e a família produziam melancia e outras culturas para ter renda maior

A decisão de sair de Santa Catarina para plantar soja em Paranatinga veio por indicação de um conterrâneo dele, que já produzia no município mato-grossense há 7 anos. Trata-se de Ângelo Rogério Kochan, que agora já produz na região há 10 anos e, pela ‘propaganda’, levou mais gente para o município.

“Eu vim em 2013 para abrir cerca de 300 hectares, mas eu plantei 450 hectares e agora, na próxima safra, vai chegar em 2.750 hectares de soja”, diz.

Ele avalia que o crescimento de produção foi possível graças ao olhar atento às necessidades da terra.

“Quando chegamos, nos chamaram de loucos, porque a terra não prestava – mas quem falava isso era o pessoal que não entendia de agricultura – e a gente é agricultor de berço”, relembra.

Ângelo Rogério Kochan tinha o projeto de plantar 300 hectares de soja em Paranatinga em 2013 e hoje produz 2.700 hectares

Ângelo conta com o apoio do filho André Felipe, que é técnico agrícola.

“É alta a produtividade de soja aqui, é só cuidar da terra. Agora tem bastante gente vindo para cá. Até de onde se falava que aqui não é uma região boa, está vindo gente”, comenta.

O sucesso de Ângelo animou familiares e amigos que, assim como Marcos Navroski, também deixaram Santa Catarina para investir na produção de soja em Paranatinga.

“Tem um primo por parte de mãe que veio na mesma época e vieram amigos do Norte Catarinense, daí eu trouxe um primo para sociedade numa área e, agora, veio um irmão meu também”, detalha.

Tanto Ângelo, como Marcos, apontam que a terra da região é diferente da que estavam acostumados no Sul, por ser mais clara, mas isso não afeta a produtividade, desde que a área de pastagem degradada seja corrigida e bem adubada.

Mas nem tudo são flores. Uma das dificuldades é o excesso de chuva na região e as estradas não pavimentadas. Para garantir a logística, os produtores se unem para custear as despesas do conserto das estradas rurais, usando máquinas cedidas pela prefeitura.

Quem está há décadas na região relata que é surpreendente a procura por áreas e a transformação causada ao município, desde que agricultores de outros estados passaram a investir em Paranatinga.

É o caso de Pedro Dalla Nora, que em 1985 plantou sua primeira lavoura de soja no local e nunca mais parou.

“A fronteira agrícola está se expandindo de maneira impressionante. A gente que está aqui nem acredita. A gente, que viu essa história de Paranatinga há 38 anos, se assusta quando olha hoje como estão as áreas agrícolas de 15 anos atrás. Antigamente existia um pensamento de que Paranatinga não era região de soja. Não era porque não se plantava. Hoje Paranatinga tem alta produtividade, tanto quanto as melhores regiões do estado”, reforça.

Agricultores da região garantem que a terra é altamente produtiva, até mesmo onde antes havia pastagem degradada

Para Pedro, o crescimento da produção se deve a um conjunto de fatores. Ele observa que, além da oferta de terras disponíveis para serem transformadas em lavouras, o que tem animado os agricultores a expandir suas áreas é que a cultura de soja tem se mostrado economicamente viável e, por isso, aposta que “Paranatinga ainda será destaque nacional na produção”.

Dalla Nora lembra que, antigamente, a logística era complicada e pouca gente plantava.

“Nós estamos aumentando nossas áreas; a gente plantava pouca soja, mas hoje a estrada de Paranatinga a Primavera do Leste está pavimentada e tem duas empresas recebendo soja, que estão instaladas na cidade. Além disso o município já se estruturou e as terras são excelentes para a cultura de soja. Um produtor puxa o outro; conheço muitos que vieram para cá, se deram bem e depois trouxeram o primo, o vizinho. Imagino que, daqui uns seis anos, a cidade estará no cenário nacional como um dos principais produtores de soja do país”, prevê.

Pedro Dalla Nora planta 1.100 hectares de soja permanente

Eldorado

Se fosse abrir 50% da área de Paranatinga, o produtor estima que chegaria a 1,2 milhão de hectares. Hoje, segundo Dalla Nora, há aproximadamente 700 mil hectares de terra para lavoura, mas existem apenas 400 mil hectares com plantação de soja.

“O número pode chegar a 600 mil nos próximos anos, sem precisar desmatar, só incorporando áreas de pastagem”, acrescenta.

Pedro planta 1.100 hectares de soja permanente e ainda mantém a pecuária.

O prefeito Josimar aposta que o município, em pouco tempo, vai  ultrapassar a produção de Sorriso, que tem o maior volume em Mato Grosso. Ele arrisca até que o município seja campeão mundial em produção de soja.

“O que move Paranatinga hoje é a questão de ter terras para produzir. Vamos chegar a ser o maior produtor de soja do mundo, porque já plantamos média de 400 mil hectares e temos 2.400 milhões de hectares [território total]”, enfatiza.

A estimativa do Sindicato Rural de Paranatinga é que o cultivo de soja, nesta safra, tenha alcançado 350 mil hectares.

Potencial promissor

O prefeito aponta que a proximidade com Rondonópolis (300 km) é outro fator que beneficia o município na expansão da produção.

“Vamos ultrapassar Sorriso; somos o único município com capacidade de grande expansão de lavouras. Sorriso planta hoje cerca de 600 mil hectares e vamos chegar em cinco anos a 800 mil hectares de área plantada [de soja]. Nosso crescimento de lavoura tem sido de 100 mil hectares por ano”, conta.

Sorriso é o primeiro colocado na produção de soja em MT. O município produziu cerca de  2.043.470 toneladas de soja na safra 21/22, já Paranatinga ocupa o 8º lugar na produção da com  1.171.987 toneladas na mesma safra.

Potencial promissor

A expectativa do prefeito é que, em cinco anos, a cidade dobre o número de habitantes, devido ao crescimento das lavouras que têm atraído empresas, gerado empregos e renda.

O município tem hoje cerca de 27 mil habitantes, conforme dados parciais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no censo de 2022. A expectativa do prefeito é que, em cinco anos, sejam 60 mil habitantes.

“Olha o tanto que cresceu a instalação de empresas aqui. São empresas de insumos e multinacionais que vieram e outras que estão nos procurando para abrir unidades. Até a Ginco [construtora] está abrindo condomínio horizontal aqui e está praticamente tudo vendido. Esse com certeza é o novo eldorado da soja. Agora é só crescer”, comemora.

Fonte: RepórterMT

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