SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os mercados de câmbio, ações e de juros do Brasil traçavam um cenário pessimista para os negócios domésticos no início desta segunda-feira (14), que rumavam na contramão do clima esperançoso que derrubava a cotação do petróleo e impulsionava as bolsas da Europa.
Expectativas sobre avanços nos diálogos entre Rússia e Ucrânia eram responsáveis pela consistente queda de 6,81% do barril do petróleo Brent, cotado a US$ 105,00 (R$ 516,53) às 13h02.
No Brasil, porém, a queda da commodity afundava as ações da Petrobras e de outras petrolíferas. Para piorar o cenário do setor de materiais básicos, surtos de Covid-19 da China prejudicaram as negociações de minério de ferro, ajudando a derrubar as ações da Vale.
Com as duas principais empresas da Bolsa no vermelho, o Ibovespa cedia 1,20%, a 110.362 pontos. O dólar subia 0,62%, a R$ 5,0860. E a culpa da alta no câmbio e da queda da Bolsa não é só das commodities.
Nesta semana, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deverá tirar sua taxa de juros de referência do zero, medida que pode levar estrangeiros a retirar dólares de investimentos arriscados em países emergentes e levá-los para a segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Em Nova York, os mercado oscilava devido a uma combinação de expectativas sobre negociações na Ucrânia e alta dos juros do Fed. Os índices Dow Jones e S&P 500 subiam 0,62% e 0,11%, respectivamente. A Nasdaq, onde estão listadas empresas mais vulneráveis à alta dos juros, caía 1,03%, após uma abertura em alta.
Na Europa, a Bolsa de Londres avançava 0,63%. Paris e Frankfurt saltavam 2,05% e 2,47%, nessa ordem.
É na flutuação do valor do petróleo, porém, que está a explicação mais complexa para o fato de que o mercado financeiro brasileiro esteja desandando neste início de semana. Isso tem tudo a ver com a forte influência política sobre o setor petrolífero no Brasil.
Especificamente nesta segunda, a redução da expectativa de ganhos de curto prazo com ações de petroleiras era provocada pela desvalorização pontual da matéria-prima.
Mas, considerando as altas do petróleo desde o início da guerra, a pressão inflacionária gerada pela disparada da commodity é o que vem levantando temores sobre o Brasil. No centro da questão, está a preocupação de investidores de que o governo possa interferir na política de preços da Petrobras, prejudicando assim os resultados da companhia e a saúde financeira do país.
Não é só a possibilidade de intervenção do governo nos preços dos combustíveis que preocupa o mercado. Renúncias na arrecadação para tentar reduzir os efeitos do mega-aumento dos combustíveis chamam a atenção de investidores para o risco fiscal.
É assim que analistas denominam o risco de que o governo não consiga cumprir o Orçamento, seja devido ao crescimento de gastos ou pela redução da receita. Essa ameaça tradicionalmente já afeta o mercado em anos eleitorais, como é o caso de 2022.
Permitir que os preços subam sem contramedidas também cria dificuldades no dia a dia da população que vão além da inflação.
Desde o anúncio do mega-aumento dos combustíveis, na última quinta (10), o mercado de juros futuros de curto prazo galopou. As taxas DI para 2023, negociadas entre bancos e que servem de referência para operações de crédito em geral, saltaram de 12,90% para 13,18% ao ano, até esta segunda.
Na Ásia, as bolsas fecharam mistas. Tóquio subiu 0,58%. Hong Kong derreteu 4,97%. Na China continental, o principal índice dos mercados de Xangai e Shenzhen afundou 3,06%.
“Os mercados da China recuaram com nova onda do Covid e a implementação de tolerância zero com novo decreto de lockdown, incluindo o centro tecnológico de Shenzhen”, disseram analistas da Ativa Investimento em boletim aos investidores nesta manhã.
Paralisações em atividades econômicas na China prejudicam as expectativas sobre os contratos futuros de minério de ferro, pois o país é o maior produtor de aço global. O setor de commodities metálicas é um dos mais importantes para a Bolsa brasileira, sobretudo pelo elevado peso na Vale no Ibovespa.
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