(FOLHAPRESS) – “Quem lacra não lucra.” A fala é repetida com frequência por apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais ao comentar manifestações de artistas contra o presidente ou em defesa de pautas identitárias.
Às vésperas das eleições presidenciais, a afirmação parece ter se tornado concreta para uma série de celebridades, que se queixam que tem sido mais difícil fechar ações publicitárias, os chamados “publis”, depois de terem declarado apoio a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, o PT.
É o caso do YouTuber Felipe Neto, da cantora Luísa Sonza e da DJ Deolane Bezerra, viúva do cantor MC Kevin conhecida como Dra. Deolane, que nos últimos dias se pronunciaram sobre o assunto nas redes sociais.
“Não quero viver num país burro com jovens que só podem postar dancinhas, fazer fotos bonitas nas redes sociais e apenas isso ser de acordo com o que as marcas querem”, escreveu Sonza no Twitter.
Poucas horas depois, Deolane publicou que empresas interessadas em patrocinar seu arraial estão pedindo que seus posicionamentos políticos, que incluem a publicação de fotos com o candidato petista, sejam interrompidos.
O cenário é confirmado por Fátima Pissarra. Ela é uma das diretoras da Mynd, agência de marketing criada com Preta Gil que no ano passado registrou um faturamento de cerca de R$ 300 milhões negociando ações publicitárias de celebridades.
A empresária, que representa figuras como a própria Sonza, Pabllo Vittar, Gil do Vigor e Gkay, diz que o cenário é ruim para os que apoiam o PT. Embora incentive seus artistas a se manifestarem politicamente –seja à esquerda, seja à direita–, ela também trabalha com artistas tachados de isentões por evitarem se posicionar nessa seara, caso de Claudia Leitte e Luan Santana.
Pissarra afirma que não há um segmento que seja mais a favor de Lula ou de Bolsonaro, mas que, entre seus agenciados, os que mais se saem prejudicados são os que dizem que vão votar no primeiro. “Em geral, independentemente do segmento, quando a marca pede influenciadores que não exponham posicionamentos políticos, ela está se referindo a não contratar influenciadores que apoiam Lula”, diz a empresária, que acaba de lançar um livro sobre gestão de carreira de influenciadores, “Profissão Influencer”. “São pessoas que apoiam questões de sexualidade, de gênero, de raça.”
Pissarra cita Sonza como exemplo. A cantora já se posicionava contra Bolsonaro antes do pleito que o levou ao Planalto há quatro anos, quando pediu até para sair de um avião que dividiria com o então candidato à presidência. Foi durante a pandemia, porém, que suas manifestações se tornaram mais frequentes e chegaram aos palcos entre um hit e outro.
“É mais fácil aceitarem posicionamentos de uma celebridade que já tem uma vivência ativista, [como Pabllo Vittar]. A Luísa começou a se posicionar em shows e recebemos mensagens de marcas dizendo que iria ser difícil contratá-la, porque ela está se posicionando muito. Pediram para ela dar uma freada.”
Outro exemplo é Luccas Neto, dono do maior canal infantil do mundo no YouTube. Ele nunca discute política, mas seu irmão, Felipe, critica Bolsonaro quase diariamente nas redes sociais. Isso já basta para que algumas marcas não queiram trabalhar com Luccas, diz Pissarra.
“Empresas de um dono só ou de uma família são mais fechadas. Grandes grupos são mais abertos e contratam mais pelo perfil de seguidores com o qual a marca quer falar do que por quem os influenciadores votam”, afirma a empresária, sem citar nomes, segundo ela para evitar conflitos comerciais.
Notícias ao Minuto Brasil – Fama
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