SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fazer uma história passada antes da pandemia em plena pandemia foi, sem dúvidas, o grande desafio de Maurício Farias em “Um Lugar ao Sol”. A pouco dias do fim da novela, que se encerra nesta sexta-feira (25), o diretor relembrou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que os atores não podiam se tocar e estavam sempre em número limitado em cena, além de não poderem gravar externas durante um longo período.
“Foi um esforço enorme ultrapassar tantos limites, e impedir que eles [os esforços] chegassem à tela”, disse. “Jamais trabalhei em situação semelhante. Não havia vacina e o clima nos bastidores era de tensão. As medidas de segurança tornavam as condições de realização difíceis. Mas, apesar do medo, estávamos felizes de realizar nosso trabalho naquele momento”.
Lícia Manzo, escritora da obra, acrescenta que as adaptações de texto foram “inúmeras” para atender aos protocolos impostos pela pandemia. E o esforço se revelou na audiência: a estreia foi baixa, mas ao menos o público se manteve fiel até o final.
Com 25 pontos de audiência na estreia na Grande SP e 27 no Rio (cada ponto correspondia a 76 mil e 50 mil domicílios, respectivamente, na época), a novela conseguiu manter seus espectadores ao longo dos quase cinco meses, registrando recorde na média da penúltima semana no PNT, com 23 pontos de audiência geral e 38% de participação -o pico foi de 30 pontos, no Rio, em que cada ponto equivale a 258 mil domicílios.
“Um Lugar ao Sol” originalmente estrearia em maio de 2020, depois de “Amor de Mãe”, mas precisou ser adiada pela pandemia. Foram 2 anos e 10 meses do início da produção até o último capítulo; 18 meses preparando a produção e 11 meses gravando, além dos de exibição. O cronograma excêntrico, segundo Farias, dificilmente se repetirá em uma novela.
“Nunca tivemos, em uma novela, tanto tempo juntos”, explica ele, comparando a equipe da novela a uma família. “Foi um reencontro com um gênero que eu não realizava há 20 anos”.
Lícia Manzo, a quem ele tece elogios, destaca o caráter da fuga de uma ambivalência na trama. “Meu objetivo é sempre levantar boas perguntas. Christian é um monstro, um vilão? Ou um homem com uma história de vida cruel que acaba cometendo erros terríveis na tentativa de salvar a própria pele? A ambição e a bondade podem coexistir num mesmo homem? É preciso cravar um rótulo -herói ou vilão- ou será possível compreender Christian como um ser humano falível e que acaba engolido pelas próprias sombras?”.
Em núcleos periféricos da narrativa, ela também levanta o questionamento: “É legítimo que uma mulher mais velha, como Rebeca, possa viver e ser feliz ao lado de um homem 30 anos mais novo? Ilana deveria reprimir o que sente por Gabriela para ser uma boa mãe normal para sua filha? Se o público escapar do ‘sim’ ou ‘não’ na hora de formular uma resposta, minha meta como ficcionista está alcançada”.
Para ela, os protagonistas Cauã Reymond e Andréia Horta conseguiram encarnar essa dualidade com esplendor. “Foram além [do imaginado por mim], ambos. São excelentes atores”, diz.
Farias acrescenta: “Cauã deu vida a dois irmãos gêmeos mais uma vez, tarefa difícil para qualquer ator. Ele construiu com profundidade uma personagem complexa, repleta de desejos e frustrações. Andréia deu vida à ‘mocinha da novela’, tarefa igualmente difícil. As personagens ‘do bem’ precisam também de um lado sombrio. Com sua sensibilidade, ela compôs muito bem a alegria, a beleza e a determinação da personagem, e também o lado trágico e triste”.
MÚLTIPLOS FINAIS
Como já estava toda feita e não pôde se adequar ao gosto do público, “Um Lugar ao Sol” teve diferentes finais gravados. Segundo o diretor, essa foi a melhor escolha para se manter fiel aos espectadores, e os demais finais não chegarão ao público por “deixarem de fazer sentido” após aquele que chegará às telas.
“Toda novela cria uma grande expectativa em torno do seu final ao longo dos meses de exibição. Ter mais de um final foi a maneira que encontramos de manter o final aberto numa obra fechada. A maneira de ser fiel a expectativa do público, que na minha opinião, não é somente pelo final em si, mas também pelas sensações que está acostumado a sentir quando uma novela se aproxima do seu final”, conta.
Mas os espectadores ficarão felizes com o escolhido? “Impossível prever”, diz a escritora. “Cada espectador é, em certa medida, coautor da trama. E o que parecerá péssimo para alguns, para outros será ótimo. Penso que amar ou odiar uma novela, livro ou filme, diz muito sobre quem está assistindo -e não apenas sobre a obra em si”.
Notícias ao Minuto Brasil – Fama
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