SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 25 anos, um Rogério Ceni menos calvo e trajado de calça marcava o primeiro de seus 131 gols na carreira, todos com a camisa do São Paulo.
Na vitória por 2 a 0 sobre o União São João, pelo Campeonato Paulista de 1997, o arqueiro são-paulino se dirigiu para a cobrança de falta e, com um chute à meia altura no canto de seu colega Adinam, abriu o placar em Araras, aos 45 minutos do primeiro tempo – o lateral esquerdo Serginho, aos 8 da etapa final, fechou o triunfo convertendo um pênalti.
O gol em 15 de fevereiro daquele ano foi um ponto de inflexão na vida de Ceni, que se tornaria o maior goleiro artilheiro da história do futebol mundial. Seu último gol foi marcado em agosto de 2015, em uma penalidade, na vitória por 3 a 0 sobre o Ceará, pela Copa do Brasil.
Até a ocasião de seu primeiro tento, porém, ainda era preciso provar que, primeiro, ele poderia ser o titular da meta tricolor após o sucesso de Zetti na era Telê Santana; e, segundo, que um jogador de sua posição cobrar faltas e pênaltis não era apenas uma excentricidade dele e de Muricy Ramalho, o técnico responsável por dar essa oportunidade.
“Paulo César bateu para o gol… Tá lá o Rogério, que é um bom goleiro, hein”, narrou Luciano do Valle, na Band, durante a transmissão do confronto diante do União São João.
Ceni era apenas Rogério, e o comentário do narrador indicava o status do atleta: desconhecido, mas visto com potencial.
Muricy, que fez do jovem paranaense o titular no gol são-paulino, havia estabelecido desde dezembro de 1996, juntamente com a titularidade, que seria seu camisa 1 o encarregado das cobranças de falta e pênaltis.
No início de 1997, Rogério Ceni teve quatro chances em faltas próximas da grande área, todas sem sucesso. Foi na quinta cobrança que o goleiro enfim desencantou.
O processo de convencimento junto ao torcedor e à opinião pública não se deu imediatamente após o gol em Araras.
Seriam necessários alguns bons anos para que Ceni se consolidasse como o goleiro da equipe. Depois, campeão da Libertadores, do mundo e tricampeão brasileiro, conseguiu construir sua imagem como ídolo, para muitos o maior da história tricolor.
Mais de duas décadas depois, no aniversário de 25 anos daquele 15 de fevereiro de 1997, o ex-goleiro se vê novamente precisando provar suas capacidades, desta vez como técnico.
Aposentado dos gramados desde 2015, iniciou em 2017 a sua trajetória como treinador, justamente no Morumbi, onde foi idolatrado. A primeira experiência, contudo, não foi exitosa.
Ceni não resistiu a uma sequência de seis rodadas sem vitórias no Campeonato Brasileiro e foi demitido pela diretoria, com o clube na zona de rebaixamento do Nacional. Em 37 jogos, somou 14 vitórias, 13 empates e dez derrotas – 49,5% de aproveitamento.
Depois de uma experiência frustrada na nova função, ele encontraria em outro time tricolor o caminho para tentar alavancar sua carreira no comando. Contratado pelo Fortaleza em 2018, conquistou a Série B do Brasileiro daquele ano.
Na temporada seguinte, levou a equipe aos títulos do Campeonato Cearense e da Copa do Nordeste, antes de aceitar uma proposta no Cruzeiro, de onde foi demitido com menos de dois meses de trabalho.
Retornou na sequência ao Fortaleza, onde foi bicampeão estadual, para assumir pouco tempo depois o Flamengo durante o Brasileiro de 2020, levando os rubro-negros à conquista da taça, confirmada mesmo com uma derrota no Morumbi para o São Paulo, na última rodada.
Campeão, o ex-goleiro nunca pareceu convencer torcida e diretoria. Logo no começo da temporada 2021, emendou as taças do Estadual e da Supercopa do Brasil. Para Rogério Ceni, entretanto, os títulos no Rio representaram somente sobrevivência, nunca tranquilidade. Até que em julho do ano passado, teve sua demissão anunciada pelo clube carioca.
De volta ao São Paulo depois que a cúpula tricolor decidiu pela saída de Hernán Crespo, Ceni comandou a equipe na reta final do Campeonato Brasileiro e, mesmo com campanha e desempenho irregulares, assegurou a permanência na primeira divisão com uma vitória sobre o Juventude, em casa, na penúltima rodada – o São Paulo terminou apenas em 13º colocado, cinco pontos acima da zona de rebaixamento.
O ano de 2022 poderá servir para que Ceni finalmente convença os torcedores são-paulinos de sua capacidade como técnico.
“Rogério Ceni segue sendo o mais promissor técnico do Brasil”, escreveu PVC em sua coluna na Folha recentemente, publicada após as primeiras duas rodadas do Campeonato Paulista.
“O time precisará se confirmar competitivo nas estreias da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana. Tempo para Rogério estruturar a equipe, brigar pelos títulos relevantes. Não importa ter perdido para o bom time do Guarani e empatado com o campeão da Série C, o Ituano. Importa melhorar.”
Em cinco partidas do Paulista, o São Paulo tem duas vitórias, um empate e duas derrotas. É o segundo colocado do Grupo B, com 7 pontos, quatro a menos que o líder São Bernardo, que tem um jogo a mais.
Neste início de temporada, assim como na reta final do último Brasileiro, o desempenho tricolor é irregular. O triunfo sobre a Ponte Preta, neste domingo (13), só foi construído a partir dos 42 minutos da etapa final, quando Gabriel Sara empatou o jogo em Campinas. Calleri, aos 48, virou.
“Não vamos ganhar todos, vamos competir todos os jogos. É um time com prazer de ter o controle do jogo. Eles veem no treinador um cara apaixonado pelo futebol, não pelo emprego. É apaixonado pelo São Paulo, porque tem tido toda a vida que teve no São Paulo. Mas não defendo o emprego, defendo a maneira de jogar. Ainda sofremos na parte física, mas não deixamos de lutar”, disse.
Será preciso mais do que luta para que o são-paulino se convença, da mesma forma que há 25 anos, de que seu técnico é capaz de alcançar o topo.
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