Um dia histórico para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno. Pela primeira vez, o país teve uma representante na modalidade: Nicole Silveira. Mais do que isso, a gaúcha de Rio Grande, de 27 anos, conseguiu o feito de, após as duas primeiras descidas no Centro Nacional de Esportes de Pista, em Yanqing, terminar no Top 15. Ela marcou 1min02s58, 12.º melhor tempo na primeira bateria, e 1min02s95, em 13.º lugar na segunda. A soma dos tempos (2min05s53) colocou Nicole na 14.ª colocação no geral. Neste sábado, a partir das 8h20 (de Brasília), ela faz a terceira descida para buscar um lugar na final. Apenas as 20 melhores disputam a quarta bateria e as medalhas.
“Com o desempenho, eu posso ficar feliz. As curvas que estava focando nos treinos, consegui acertar. Os lugares que errei não eram os que eu estava perdendo muito tempo. Foram duas curvas que me fizeram perder a velocidade. Se você olhar os intervalos, estava indo bem, ficando até na frente de algumas atletas que terminaram em posições acima da minha. Então, é rever os vídeos para melhorar amanhã”, analisou Nicole.
Antes de Nicole, o único sul-americano a disputar o skeleton em Jogos Olímpicos foi o argentino German Glessner, que ficou em 26.º em Salt Lake-2002. Considerando a América Latina e o Caribe, até Pequim-2022, haviam sido apenas três representantes. O melhor resultado foi de Patrick Singleton, de Bermudas, 19.º em Turim-2006. Por isso, ficar entre as 20 melhores dos Jogos Olímpicos já seria um feito extraordinário. O intervalo entre o final da segunda bateria e o início da terceira e decisiva é de pouco mais de 32 horas e Nicole ainda tem uma rotina a cumprir até voltar ao Centro Nacional de Esportes de Pistas para tentar chegar à final.
“Saindo daqui, vamos relaxar um pouco, deixar o coração desacelerar. Depois assistir as curvas, conversar com meu treinador sobre o que pode melhorar, arrumar o trenó de novo, lixar as lâminas, e tentar dormir um pouco. Começar a trocar o ritmo para a noite, para poder competir bem”, analisou.
O percurso em Pequim-2022 tem 1,9 km, com 16 curvas com diferentes ângulos e inclinações. O melhor tempo de Nicole foi 1min02s29, conseguido no último treino oficial. Apesar dos tempos um pouco piores na prova, a brasileira não acredita que o peso da estreia em Jogos Olímpicos, dela e do Brasil na modalidade, tenha influenciado.
“Eu tentei bloquear o fato de que era uma Olimpíada para não me sentir tão diferente de qualquer outra competição. Acho que consegui por não ter tanta gente torcendo ao vivo. Desde o início da temporada vinha pensando em estar aqui e como ia ser esse sentimento, mas não tenho certeza que caiu a ficha que estou nos Jogos Olímpicos. Eu conheço bem a pista de Whistler (no Canadá, onde treina), sei o sentimento de confiança que tenho lá e tentei trazer esse sentimento para o bloco daqui”, comentou a atleta que foi a oitava colocada no evento-teste em outubro do ano passado.
Apelidada de “a braba do gelo” nas redes sociais por causa dos excelentes desempenhos na temporada – campeã da Copa América vencendo as cinco etapas, Top 10 na etapa de Altenberg da Copa do Mundo, além da oitava colocação no evento-teste -, Nicole agradeceu o apoio da torcida brasileira.
“Eu estava indo dormir e o Brasil estava acordado, mas parei para ver as mensagens e achei que era surreal. Muita felicidade ter a torcida do Brasil inteiro. Tive que silenciar o celular para poder focar só em descer na pista. Às vezes, é difícil acreditar que está todo mundo torcendo por mim. Cada mensagem me motiva mais e dá um impulso para fazer o meu melhor”, contou.
“Isso me dá ainda mais orgulho. Quando eu estou no Canadá e me perguntam de onde eu sou, se eu sou canadense, sou rápida pra falar que sou do Brasil. É um orgulho dizer que sou brasileira e, mesmo morando fora, ter esse pedaço do Brasil comigo é muito bom”, completou.
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