A reabertura dos estádios para o público no Brasil em outubro trouxe de volta a presença de sócios-torcedores aos programas dos clubes. Antes adormecido, os associados retomaram suas mensalidades. O principal caso talvez seja do Internacional, que chegou a ter 95% de sócios no clássico com o Grêmio, no início de novembro.
No geral, a média colorada foi de 87% no Brasileirão, encerrado no início deste mês. O clube gaúcho contava com o maior número de sócios no Brasil, com cerca de 100 mil inscritos, mas foi ultrapassado pelo Atlético-MG, cuja torcida está bastante motivada para a temporada 2022. O campeão brasileiro e da Copa do Brasil aproveitou a boa fase em campo para alavancar seus números. São, atualmente, mais de 126 mil associados ao programa.
O Internacional tem números que representam também uma série de ações voltadas para aproximar os fãs do time. Uma delas, que ocorreu durante os jogos em Porto Alegre, foi o sorteio de dez sócios, com familiares, para acompanhar a delegação da equipe no hotel, assistir às partidas de uma tribuna especial e passar a noite num hotel reservado pelo clube.
“Os sócios são o maior patrimônio que o Internacional possui. De vários anos para cá, nós somos o clube com o maior quadro social e com a maior arrecadação financeira em termos sociais, o que representa muito no nosso orçamento e no nosso balanço financeiramente. Neste período de pandemia da covid-19, nós tivemos uma perda significativa do quadro social, embora sejamos no Brasil um dos clubes que menos perderam porcentualmente sócios”, afirma Victor Grumberg, vice-presidente administrativo do Inter.
Outro clube gaúcho que obteve bons dados foi o Juventude. A força do Estádio Alfredo Jaconi, reformado este ano para a disputa da Série A, também trouxe a boa presença da torcida. O clube alcançou 6.300 inscritos e uma média de 40% de sócios ao programa. Se cada um desses pagar mensalidade de R$ 10, o clube arrecada R$ 63 mil. Os valores individuais são maiores. Há algumas faixas para o torcedor escolher.
“Durante todo o período da pandemia, os sócios-torcedores acreditaram no Juventude e continuaram contribuindo mesmo sem terem acesso aos jogos. Na volta, dedicamos quase a totalidade do espaço e permitimos para os nossos sócios subsidiar 70% do valor do ingresso para dois acompanhantes”, diz Fábio Pizzamiglio, vice-presidente de marketing do time gaúcho. O Juventude se salvou do rebaixamento na última rodada apoiado por quase 20 mil torcedores no Alfredo Jaconi.
Caçula na Série A e garantido para a disputa em 2022, o Cuiabá também viu seu público crescer de associados. O quadro de sócios chegou a 10 mil inscritos, com uma média de 40% deles na Arena Pantanal, número considerado surpreendente por ter sido o primeiro na divisão de elite.
“O apoio do sócio foi importante durante a pandemia e, consequentemente, na reabertura. A torcida em Cuiabá e região tinha um anseio grande de ver pela primeira vez os jogos na Série A, e ser sócio-torcedor o credencia para ter alguns privilégios. Esperamos que para 2022 a gente continue crescendo e veja o estádio cheio”, observa Cristiano Dresch, vice-presidente do clube do Mato Grosso, outro a confirmar sua permanência na elite na rodada derradeira.
BOTAFOGO – O Botafogo, campeão da Série B, comemora outro tipo de número. O programa de sócio-torcedor do clube conquistou recentemente 4.500 novos adeptos desde o lançamento do novo programa, em junho. Já o faturamento médio nos últimos seis meses foi de R$ 640 mil, ante R$ 340 mil no período entre junho de 2020 e maio de 2021.
“É dinheiro novo que estamos trazendo para a mesa do clube sem recorrer ao caminho mais comum de sacrificar a receita de bilheteria. Precisamos dar o benefício para os sócios-torcedores, mas não podemos entregar um produto que a conta não fecha. Os sócios, desde o primeiro momento de reabertura do estádio, foram priorizados”, explica Pedro Souto, gerente de negócios do Botafogo.
O clube alvinegro criou uma política de descontos progressivos. A partir do plano mais barato, o sócio já tinha pelo menos 50% de desconto no valor do ingresso para os jogos. “Para a próxima temporada, avançaremos ainda mais, escutando a torcida, olhando para o mercado e para as nossas contas. O relacionamento com o torcedor é fundamental e o Camisa 7 é a unidade de negócio com mais potencial do clube”, comenta Souto.
EXEMPLO NORDESTINO – Pela primeira vez garantido na Copa Libertadores de 2022 com uma campanha memorável no Brasileirão deste ano, o Fortaleza chegou a ter 87% de média de sócios-torcedores no confronto diante do Grêmio, em 13 de outubro. Neste mês de dezembro, o clube está perto de atingir a marca dos 30 mil inscritos em seu programa de adeptos e já projeta uma arrecadação de 20% a 30% maior com isso em 2021.
“Sabemos que o nosso torcedor chega junto e é uma torcida muito apaixonada. Colocamos descontos diversos e preços justos para trazer aquele torcedor que estava esperando um pouco para voltar a ser sócio”, afirma Gigliani Maia, gestor do sócio-torcedor do Fortaleza.
Próxima temporada
Especialistas acreditam que este anseio do público pelo retorno aos estádios será ainda maior em 2022 e, até por isso, é preciso que os departamentos comerciais e de marketing dos clubes estejam preparados para cativar os fãs que ainda não se inscreveram nos programas.
“Alguns clubes souberam trabalhar muito bem no desenvolvimento dos seus programas de sócios-torcedores, mesmo durante o período de portões fechados. Com a volta do público, este é o momento ideal para que os clubes se reorganizem para explorar a demanda reprimida de fãs, alavancando a venda de ingressos e de produtos e serviços relacionados ao time, para suavizar o impacto financeiro negativo da pandemia nestas últimas temporadas”, aponta Felipe Soalheiro, diretor da SportBiz Consulting, agência especializada em marketing esportivo.
Renê Salviano, que já comandou o departamento comercial do Cruzeiro e é fundador da agência HeatMap, especializada na captação de patrocínios no esporte, diz que a oportunidade que as agremiações brasileiras podem ter em mente, com estratégia planejada, é vender a temporada inteira, como acontece em clubes europeus e outras ligas de fora. O Brasil ainda não consegue se organizar a esse ponto.
“Agora é a hora de aproveitar um fato raro. Este momento de estádio vazio trouxe uma enorme vontade de as pessoas irem aos jogos. Acredito, inclusive, que algo que parecia distante que é a venda da temporada de uma vez só, de forma antecipada, pode fazer total sentido se for desenhada uma estratégia que demonstre a possibilidade de escassez de ingressos em vários estádios do Brasil; mas nunca esquecendo de ouvir o torcedor para conectar categorias que façam sentido para cada um deles, inclusive, a grande maioria que não vai aos estádios presencialmente”, avalia Salviano.
Confira o ranking de sócios do mês de outubro:
1.º – Atlético-MG – 76.314 sócios
2.º – Internacional – 75.100
3.º – Flamengo – 69.691
4.º – Grêmio – 64.000
5.º – Vasco – 58.217
6.º – Corinthians – 40.344
7.º – Palmeiras – 32.379
8.º – São Paulo – 29.986
9.º – Fluminense – 29.711
10.º – Santos – 25.789
11.º – Sport – 23.491
12.º – Botafogo – 16.991
13.º – Bahia – 16.123
14.º – Fortaleza – 15.792
15.º – Ceará – 14.812
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