GIULIANA MIRANDA
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Uma estudante brasileira de 11 anos foi agredida por uma colega dentro de uma escola pública da cidade de Entroncamento, no centro de Portugal. O caso foi registrado por outros estudantes, que filmaram a cena com seus celulares sem agir para impedir os socos e pontapés.
As imagens do ataque foram compartilhadas nas redes sociais, fazendo crescer novamente o debate sobre violência, bullying e xenofobia na rede de ensino público do país. Em 2021 Portugal atingiu o maior número de imigrantes em sua história: mais de 771 mil, em uma população de cerca de 10,3 milhões.
A mãe da criança registrou a ocorrência na polícia e afirma que, no mesmo dia, a filha voltou a ser fisicamente agredida na escola. Ela conta que a menina é alvo de bullying e ataques de cariz xenofóbico desde que passou a frequentar o colégio, em 2018.
“Eu nem sei nem o que pensar, porque me mudei para Portugal justamente para fugir da violência. Eu morava em São Gonçalo [região metropolitana do Rio de Janeiro] e quis vir para cá para permitir que a minha filha tivesse mais segurança”, diz Antônia Melo à reportagem.
Na ocasião, a mãe prestou uma queixa do assédio online para a instituição de ensino, mas segundo ela nada de concreto foi feito.
A menina desenvolveu um comportamento depressivo desde que começou a ser alvo de bullying em Portugal. Além de referências depreciativas ao Brasil, ela ouviu comentários como “volta para a tua terra” em diversas ocasiões.
Hábitos de leitura da jovem, que apareceu na escola com um exemplar da série “Death Note”, também foram usados como munição. A série de mangá conta a história de um estudante que encontra um caderno sobrenatural com a propriedade de matar pessoas.
Após o episódio de violência física, Antônia Melo diz querer transferir a criança de escola. Nesta semana, ela participou de uma reunião com responsáveis da instituição e uma psicóloga. Embora a diretoria tenha garantido que vai assegurar a segurança da criança, a mãe diz que não se sente confiante para que a filha retome o convívio com as agressoras.
“Ela foi para a escola depois da agressão, mas, com a repercussão toda, está sofrendo. As colegas disseram que ela é culpada pela mãe ter denunciado o caso”, conta. Ao tomar conhecimento das imagens com as agressões à filha, Antônia gravou um vídeo relatando a situação e desabafando. Em poucos dias, depois que a TV portuguesa noticiou o episódio e transmitiu as cenas, conta ter recebido relatos similares de mães brasileiras em vários pontos do país.
Ela avalia que há uma subnotificação de casos, com um ambiente que pouco encoraja que os responsáveis denunciem as situações ocorridas nas escolas.
Segundo o relatório “Um Rosto Familiar: A Violência nas Vidas de Crianças e Adolescentes”, publicado em 2017 pela Unicef, de 31% a 40% dos jovens entre 11 e 15 anos de Portugal disseram ter sido intimidados na escola pelo menos uma vez nos dois meses anteriores à pesquisa.
A reportagem entrou em contato com a escola, mas não houve resposta até a publicação deste texto. Já o Ministério da Educação português declarou que abriu, na segunda (7), um inquérito para investigar o episódio. A pasta também informou que fornecerá apoio psicológico à estudante brasileira. “No quadro da sua autonomia, a escola tem trabalhado o tema do bullying, por forma a combater comportamentos desviantes e favorecer a tolerância, o respeito, bem como o bem-estar emocional da comunidade discente”, diz a nota.
No fim de janeiro, o relato de agressão de outra criança brasileira em uma escola pública de Portugal também chamou a atenção, mas com o agravante de a violência ter partido de uma funcionária. O menino de sete anos, que apresenta atraso de desenvolvimento e dificuldade para se expressar oralmente, está em processo de investigação para o diagnóstico de autismo.
Ele apresentou descontrole emocional após ser obrigado a comer –a seletividade alimentar é uma das características do espectro– por uma das auxiliares de educação da escola. O menino deu um chute na funcionária, que reagiu com uma bofetada no rosto dele. O golpe provocou um forte sangramento no nariz e foi presenciado pelos demais estudantes.
Segundo a mãe do garoto, Maria Venâncio, a escola não relatou inicialmente a gravidade do episódio, omitindo a informação de que o menino teria tido o sangramento. “Quando eu fui buscá-lo, ele já estava limpo. Tinham colocado outro casaco por cima da roupa suja de sangue”, disse.
A brasileira apresentou queixa na polícia e a funcionária está afastada. “Quero que meu filho continue na escola, onde já estudava antes e está bem integrado. Minha ideia é lutar para mudar as coisas e garantir que isso não aconteça mais com nenhuma criança”, conta.
— Ricardo Antunes (@blogricaantunes) February 11, 2022
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