GUSTAVO QUEIROLO E LUCIANO VERONEZI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Guerra da Ucrânia, que nesta sexta-feira (3) completa cem dias, já forçou ao menos 6,8 milhões de pessoas a deixarem suas casas em busca de segurança em países vizinhos. É como se toda a população da cidade do Rio de Janeiro tivesse fugido.
O número, que representa 15% da população ucraniana de antes do conflito, não conta os deslocados internos, que se mudaram para outras cidades -estes são mais 8 milhões. As cifras fazem o conflito no Leste Europeu responder pela maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, com um fluxo poucas vezes visto em situações semelhantes.
Desde o início da guerra, o Acnur, agência de refugiados das Nações Unidas, faz uma compilação com dados fornecidos pelas autoridades em pontos nas fronteiras. Nesse período, estima-se que 2,2 milhões de pessoas fizeram o caminho inverso, em direção à Ucrânia -parte é composta por ex-refugiados que voltaram para casa, mas não é possível afirmar quantas.
Para dimensionar o drama humano por trás dos números de refugiados, a reportagem comparou esses deslocamentos em massa com a população de cidades brasileiras.
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A Polônia foi o país que mais recebeu refugiados da Ucrânia. Ao todo, 3,63 milhões de pessoas cruzaram a fronteira desde o início do conflito buscando se estabelecer no vizinho. Se toda a população de Brasília tivesse se deslocado, não atingiria esse número.
Talvez seja curioso notar que o segundo país com maior fluxo de ucranianos em fuga seja a potência militar que iniciou o conflito. Na Rússia, o número de refugiados se aproxima de 1 milhão: são 971,4 mil pessoas, mais do que o total de habitantes de Duque de Caxias, cidade vizinha à capital fluminense e terceira cidade mais populosa do Rio de Janeiro.
Cruzaram a fronteira com a Hungria 682,6 mil pessoas vindas da Ucrânia, um contingente que supera o total de moradores da capital sergipana, Aracaju.
Os 563,6 mil refugiados que se deslocaram em direção à Romênia se aproximam numericamente dos 577,5 mil habitantes da cidade mineira de Juiz de Fora, a quarta mais populosa do estado.
Saíram da Ucrânia para a Moldova 479,5 mil pessoas, quase o total de habitantes da cidade de Mauá, na Grande São Paulo.
Rumo à Eslováquia, o número estimado é de 461,2 mil refugiados, contingente que supera a população da cidade paulista de Mogi das Cruzes.
Uma ditadura aliada de Moscou recebeu o menor número de pessoas saídas da Ucrânia, considerando apenas os vizinhos diretos da nação invadida. Mesmo assim, as 16,6 mil pessoas que se deslocaram para a Belarus superam numericamente os moradores da Barra Funda, bairro da zona oeste de São Paulo.
Somados esses fluxos, os 6,8 milhões de pessoas que deixaram a Ucrânia durante os cem dias de conflito superam a população da cidade do Rio de Janeiro.
O levantamento leva em consideração apenas quem cruzou a fronteira terrestre da Ucrânia em direção a países vizinhos -ou seja, não entram na conta as pessoas que saíram por via aérea ou marítima. Da mesma forma, os números não abarcam um possível trânsito dos refugiados depois de deixar a Ucrânia em busca de abrigo definitivo, em outra nação próxima ou mais distante, como o Brasil.
Até 14 de abril, haviam sido reportados ao menos 67 pontos de travessia nas fronteiras da Ucrânia.
A reportagem elaborou as comparações com dados compilados até 31 de maio. A população dos municípios brasileiros considera a projeção estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano de 2021.
Fontes: United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs, IBGE e Prefeitura de São Paulo
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