(FOLHAPRESS) – O duelo pela Presidência da França entre Emmanuel Macron, 44, e Marine Le Pen, 53, trará às cédulas do segundo turno no próximo dia 24 os nomes dos mesmos candidatos que disputaram um mandato para o Palácio do Eliseu em 2017.
A votação do último domingo (10) permite inferir, porém, que os últimos cinco anos provocaram mudanças significativas no cenário político francês.
Parte da transformação se deve ao conjunto de crises com o qual Macron teve que lidar desde que foi eleito, em especial as dos últimos dois anos: primeiro, a pandemia de coronavírus e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia.
Veja a seguir alguns pontos-chave das eleições presidenciais na França.
MACRON E LE PEN REPETEM DISPUTA, MAS AMBOS ESTÃO MAIS FORTES
De acordo com a apuração final divulgada pelo Ministério do Interior da França, o atual presidente conquistou 27,8% dos votos, contra 23,2% da ultradireitista -que disputa um cargo no Eliseu pela terceira vez. Em 2017, 24% dos eleitores escolheram Macron no primeiro turno e 21,3% preferiram Le Pen.
O fato de ambos terem recebido maior proporção dos votos em relação à eleição anterior denota, entre outros fatores, que a esquerda e a direita tradicionais perderam ainda mais espaço na França.
Macron assumiu o governo prometendo ser um nome “nem de direita nem de esquerda” -embora sua atuação política seja classificada de centro-direita. Le Pen, por sua vez, personifica entre os franceses um ideal nacionalista, e por vezes, extremo.
A candidata, porém, mostrou jogo de cintura político na reta final da campanha ao moderar o discurso para atrair uma parcela do eleitorado tocando no bolso -ou, mais especificamente, no poder de compra dos franceses, em queda devido à alta da inflação.
ZEMMOUR MIROU ALTO, MAS FICOU AQUÉM DAS EXPECTATIVAS
O polemista de ultradireita Eric Zemmour, 63, disparava nas intenções de voto e estava atrás apenas de Macron quando formalizou sua candidatura à Presidência, em novembro do ano passado.
Fez fama radicalizando o discurso contra o feminismo, o islã, a imigração e o multiculturalismo, motivo pelo qual foi frequentemente comparado ao ex-presidente dos EUA Donald Trump.
Na prática, porém, Zemmour foi despencando nas pesquisas -em parte devido a antigos comentários em apoio a Vladimir Putin, que pegaram mal no contexto da guerra em curso- e terminou o primeiro turno na quarta posição, com 7,07% dos votos.
“Eu tenho discordâncias com Marine Le Pen, mas há um homem que a enfrenta que deixou 2 milhões de imigrantes entrarem [na França] e faria pior se fosse reeleito”, disse Zemmour, convocando seus eleitores a votarem na candidata com quem divide o mesmo espectro.
MÉLENCHON SURPREENDEU E QUASE CHEGOU AO 2º TURNO
Considerado a maior surpresa do 1º turno da votação, Jean-Luc Mélenchon, 70, obteve 21,95% dos votos. O esquerdista radical ficou, portanto, a 1,2 ponto de Le Pen -o equivalente a pouco mais de 420 mil votos.
Parte de seu bom desempenho se deve à constatação do eleitorado de que ele seria o único nome viável na esquerda dividida, que contava ainda com o verde Yannick Jadot, o comunista Fabien Roussel e a socialista Anne Hidalgo -sem contar outros nanicos. Sozinho, Mélenchon teve mais que o dobro de votos desses três outros esquerdistas somados.
Macron e Le Pen agora cortejam a significativa parcela dos eleitores que escolheram o representante do partido França Insubmissa. Mélenchon pediu que sua base apoie o atual presidente, mas de acordo com uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), só 33% indicaram que seguiriam a diretriz.
A maior parte (44%) reúne os que pretendem se abster, votar em branco ou anular a participação, e os outros 23% cruzarão o espectro político para votar em Le Pen.
AUSÊNCIA DE IDEAIS EM DEBATE LEVOU A ALTA ABSTENÇÃO
Das últimas 11 eleições presidenciais na França, que abrangem um período de quase 60 anos, esta foi a que teve o segundo maior índice de abstenção.
De acordo com o Ministério do Interior, 25,1% dos franceses não compareceram às urnas. A taxa só não foi maior que a do pleito de 2002, de 28,4%.
Houve neste domingo mais franceses abrindo mão do direito ao voto -direito não obrigatório no país- do que votando em Le Pen, por exemplo.
Para analistas, o baixo comparecimento se deve, ao menos em partes, à ausência de grandes ideais em jogo na eleição. Enquanto o pleito de 2017 acentuou a polarização e, por consequência, mobilizou mais os eleitores, a campanha atual foi ofuscada pela guerra da Ucrânia.
Macron, à frente na disputa, fez um único comício e só confirmou sua candidatura na véspera do prazo final. O atual presidente e sua opositora não fizeram nenhum embate público direto e têm se limitado a trocar farpas por meio de entrevistas, pronunciamentos e publicações em redes sociais.
GUERRA NA UCRÂNIA TEVE POUCO IMPACTO NA CAMPANHA
Desde antes do início do conflito entre Rússia e Ucrânia, Macron buscou se projetar como uma espécie de porta-voz da Europa ao negociar com o presidente Vladimir Putin. Ao longo do conflito, seu papel de mediador trouxe em certa medida um caráter mais global à eleição na França.
O foco de Le Pen, por sua vez, sempre foi o discurso nacionalista. Mas mesmo os seus antigos comentários pró-Putin, no mesmo tom dos que comprometeram Zemmour, não lhe impuseram um desgaste político devido a sua agilidade em condenar a invasão russa no conflito atual.
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