WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan provocou mais apoio da oposição até agora do que do seu próprio Partido Democrata.
Enquanto o governo do presidente e correligionário Joe Biden faz uma operação de contenção de danos e tenta deixar claro que a viagem não é uma visita de Estado e foi decidida individualmente por Pelosi, parlamentares do Partido Republicano têm manifestado apoio à presidente da Casa, que chegou à ilha do leste asiático nesta terça-feira (2) sob ameaças de escalada militar da China.
Pela manhã, um grupo de 26 senadores republicanos, inclusive o líder da minoria do Senado, Mitch McConnell (Kentucky), divulgou comunicado apoiando Pelosi.
“Por décadas, membros do Congresso dos Estados Unidos, incluindo ex-presidentes da Câmara, viajaram a Taiwan. Esta viagem é consistente com a política de ‘uma só China’ dos Estados Unidos, com a qual estamos comprometidos. Também estamos comprometidos agora, mais do que nunca, com a Lei de Relações com Taiwan”, diz o grupo.
A lei citada, quando os EUA reconheceram o governo comunista da China em 1979, estabelece relações não diplomáticas com a ilha e diz que o país deve “manter a capacidade de resistir a qualquer uso da força ou outras formas de coerção que coloquem em risco a segurança ou o sistema social ou econômico do povo de Taiwan”.
Uma série de deputados republicanos também manifestou apoio de maneira descentralizada nas redes sociais e em pronunciamentos.
De forma menos organizada do que no caso dos adversários, Nancy também recebeu apoios isolados de alguns parlamentares democratas, mas é uma reação muito diferente da do próprio presidente americano. “Bom, acho que o Exército acha que não é uma boa ideia agora [visitar Taiwan]”, disse Biden há duas semanas, quando questionado sobre a visita.
Como demover Pelosi da ideia já parecia impossível, assessores e conselheiros correram para dizer ao público e às suas contrapartes chinesas que a viagem era uma decisão independente da parlamentar e que não significava endosso do governo americano.
O próprio Biden afirmou isso a Xi Jinping, líder do regime chinês, quando “deixou claro que o Congresso é um ramo independente do governo e que Pelosi toma suas próprias decisões, assim como outros membros do Congresso, sobre suas viagens ao exterior”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, em conversa com jornalistas na segunda-feira (1º).
Para minimizar o assunto e evitar uma escalada de tensões com a China, o governo americano tem dito que viagens de parlamentares americanos à ilha são comuns.
Ainda que nenhuma dessas visitas recentes tenha o peso político de uma presidente da Câmara viajando em uma aeronave oficial para uma ilha que a segunda maior potência do mundo considera uma província rebelde, é fato que políticos americanos têm batido ponto em Taiwan. A viagem de Pelosi culmina um esforço bipartidário do Congresso americano de manifestar apoio à ilha em meio à crescente rivalidade dos Estados Unidos com a China.
Em abril, por exemplo, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o democrata Bob Menendez, foi junto do republicano Lindsey Graham, também senador, em uma viagem surpresa à ilha. “Abandonar Taiwan seria abandonar a democracia e a liberdade”, afirmou na ocasião.
Em junho, os dois apresentaram um projeto de lei para fornecer cerca de US$ 4,5 bilhões em assistência à ilha nos próximos quatro anos e designá-la como um aliado extra-Otan (aliança militar ocidental).
“Muito feliz em ver que Pelosi chegou a Taiwan para reforçar nosso apoio ao povo taiwanês, amante da liberdade”, escreveu Graham no Twitter nesta terça. “Aplaudo a decisão da presidente de viajar neste momento crucial no relacionamento de nosso país com Taiwan e, com o tempo, espero um melhor relacionamento com a China continental.”
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