SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Forças da Rússia realizaram ataques neste domingo (24) contra a usina de Azovstal, último reduto de combatentes ucranianos na cidade portuária de Mariupol, disseram autoridades de Kiev.
O comando das Forças Armadas ucranianas afirmou que a Rússia abriu fogo e realizou “operações ofensivas” no local.
“Estamos sofrendo baixas, a situação é crítica […] Temos muitos homens feridos, [alguns] estão morrendo, é uma [situação] difícil com relação a armas, munição, comida, remédios […] A situação está piorando rapidamente”, disse em vídeo publicado no YouTube o comandante da 36ª brigada da Marinha da Ucrânia, Serhii Volina, de sua posição no complexo siderúrgico.
Konstantin Ivaschenko, apontado pela Rússia como prefeito de Mariupol após a ocupação da cidade, negou que combates estivessem acontecendo no local, informou a agência de notícias russa Tass. As alegações de Kiev e de Moscou não puderam ser verificadas de maneira independente.
Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou vitória na cidade, ainda que tenha ordenado o Exército do país a não atacar os combatentes ucranianos cercados no complexo de Azovstal. Em reunião transmitida pela televisão, ele ordenou que seu ministro da Defesa bloqueasse a usina “para que nem mesmo uma mosca pudesse passar”, em vez de tentar invadi-la.
Civis continuam sitiados em Mariupol e nenhum corredor humanitário foi aberto neste domingo devido a ataques russos, afirmou a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshtchuk. A ONU pediu neste domingo um cessar-fogo imediato em Mariupol para retirar cerca de 100 mil civis presos na cidade, que já está quase inteiramente controlada pelo Exército russo.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de Defesa do país, Lloyd Austin, eram esperados neste domingo (24) em Kiev para um encontro com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na visita de mais alto nível de representantes americanos à Ucrânia desde o início da invasão russa, há dois meses.
No entanto, até as 21h em Kiev (15h em Brasília), não havia informações de que os enviados americanos estivessem em solo ucraniano. A Casa Branca não se pronunciou.
Zelenski disse na véspera que discutiria com Blinken e Austin o tipo de armamento necessário para a Ucrânia combater a invasão. Ele disse também que espera que o presidente Joe Biden vá a Kiev para “apoiar o povo ucraniano”, quando a situação de segurança permitir.
A visita da delegação americana ocorre em um momento de avanço da ofensiva de Moscou sobre o leste e o sul da Ucrânia. Civis morreram em ataques russos na região de Lugansk neste domingo, disse o governador Serhii Gaida.
“Hoje, novamente, civis morreram. Nossos compatriotas. Eles [os russos] não acreditam em nada sagrado”, disse o governador em um pronunciamento por vídeo por ocasião da Páscoa ortodoxa, celebrada neste domingo.
Também neste domingo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, conversou por telefone com Zelenski e reforçou a necessidade da retirada de civis de Mariupol. Segundo comunicado da Presidência da Turquia, Erdogan disse que a situação em Mariupol “fica mais triste a cada dia”.
O turco também prometeu apoio nas negociações entre Kiev e Moscou por um cessar-fogo. “O presidente Erdogan disse que ele estava pronto para oferecer toda a assistência que puder durante o processo de negociação e para oferecer o apoio necessário, incluindo mediação”, diz o comunicado,
Erdogan deve conversar com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira (25). Em março, a Turquia sediou uma rodada de negociação entre os chanceleres da Ucrânia e da Rússia.
O ex-presidente da Ucrânia Viktor Iuschenko defendeu neste domingo o apoio internacional a Kiev como uma ferramenta essencial para derrotar a invasão russa. “Uma das melhores armas que nós temos agora contra [Vladimir] Putin é apoio e solidariedade internacionais. Isso é algo que realmente o incomoda”, escreveu Iuschenko, que governou a Ucrânia de 2005 a 2010, em artigo de opinião no jornal britânico The Guardian.
Ele afirma que, mesmo tendo sido alvo de ataques de Putin durante a sua campanha eleitoral, procurou manter uma relação de trabalho com o líder do país vizinho após chegar à Presidência. “Mas o Putin com quem eu lidei não existe mais. Desde então, ele virou um déspota brutal e completamente isolado que não aceita nenhuma oposição”, ele diz o artigo.
“Esta guerra é um momento decisivo, não só na história ucraniana, mas na defesa da democracia. Este não é apenas um conflito regional entre a Ucrânia e a Rússia mas uma luta contra a tirania e o imperialismo”.
O papa Francisco reforçou seu pedido de trégua na guerra entre Rússia e Ucrânia em meio à celebração da Páscoa ortodoxa.
“É triste que as armas cada vez mais tomem o lugar das palavras. Renovo o apelo a uma trégua pascal, o menor sinal tangível de um desejo de paz. Que parem os ataques para aliviar o sofrimento das populações exaustas”, disse o pontífice durante missa dominical celebrada na praça São Pedro. Bandeiras ucranianas podiam ser vistas na multidão.
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