SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da Ucrânia disse nesta quinta (5) que projeta ficar em modo defensivo contra a invasão russa de seu território, que entra na sua 11ª semana, pelo menos até o meio de junho.
Depois disso, afirmou à agência Reuters o assessor presidencial Oleskii Arestovitch, o influxo de armas pesadas e ajuda do Ocidente poderá mudar o cenário. Ou seja, pela primeira vez Kiev fala abertamente em uma contraofensiva para expulsar as forças de Vladimir Putin de seu território.
Retórica é retórica, claro, e até aqui os ucranianos só conseguiram reconquistar áreas quando os russos desistiram do combate, por falta de recursos humanos e problemas logísticos. Foi o que ocorreu em torno de Kiev e no norte do país e se configura uma vitória do governo de Volodimir Zelenski, mas decorreu tanto da resistência do agredido quanto da incompetência do invasor.
O que Arestovitch sugere é diferente. Na primeira fase da guerra, o grande fornecimento de armas portáteis antitanque e antiaéreas, somada ao gigantesco compartilhamento de inteligência por parte dos Estados Unidos sobre movimentos russos, permitiu uma guerra assimétrica eficaz para a Ucrânia.
Agora, com o centro dos combates deslocado de forma mais coerente e menos dispersa por Moscou para o Donbass (leste) e o sul ucraniano, visando neutralizar o núcleo das forças de Kiev no centro-leste do país, Zelenski depende do novo esforço ocidental: o de entregar armas adequadas para combates de forças em manobra.
Já estão na Ucrânia dezenas de obuseiros americanos e há promessa de muito mais, incluindo talvez caças e tanques pesados -a Polônia já doou 200 modelos antigos soviéticos T-72 ao vizinho, numericamente um quarto da força ucraniana anterior à guerra. O governo de Joe Biden conseguiu do Congresso autorização para enviar até US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões) em ajuda militar, cinco vezes o orçamento anual de defesa da Ucrânia em 2021.
Nesta quinta, uma conferência de doadores em Varsóvia arrecadou € 6 bilhões (R$ 31,5 bilhões), mas não foi especificado o quanto disso é ajuda militar pura -que já se aproxima dos US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões), se não mais, desde o início da guerra em 24 de fevereiro.
Até a vaquinha online Zelenski já apelou, lançando uma campanha mundial nesta quinta. “Em apenas um clique, você pode doar fundos para ajudar nossos defensores, salvar nossos civis e reconstruir a Ucrânia”, disse em inglês Zelenski no vídeo de apresentação da plataforma United24.
Moscou, claro, observa os movimentos como a comprovação de que sua guerra não é só contra a Ucrânia, mas também um embate direto com as forças da Otan (aliança militar liderada pelos EUA). Isso gera as constantes citações por autoridades russas, mas também no Ocidente, acerca do risco de uma escalada que leve à Terceira Guerra Mundial.
Por ora, as reações são medidas. Nesta quinta, ao comentar reportagem do jornal The New York Times mostrando que os dez generais russos mortos na guerra até agora, na conta ocidental, o foram com ajuda de dados de inteligência americana, o porta-voz do Kremlin foi fleumático.
“Nossos militares estão bem cientes de que os EUA, Reino Unido e a Otan como um todo estão constantemente transmitindo inteligência e outros parâmetros às Forças Armadas ucranianas”, disse Dmitri Peskov.
Para ele, o fornecimento de armas e dados “não contribuem para a rápida conclusão da operação [russa], mas ao mesmo tempo não são capazes de impedir o alcance dos objetivos estabelecidos”.
Enquanto isso, o conflito segue acirrado. Houve um aumento da intensidade dos ataques russos na região de Kharkiv, no norte. Em Mariupol, cidade-símbolo da brutalidade da guerra, os russos anunciaram um cessar-fogo de três dias para que os últimos civis nos escombros do complexo siderúrgico de Azovstal saiam do local, enquanto seguem combates não confirmados com as forças ucranianas remanescentes.
Na prática, contudo, o porto no mar de Azov já é russo. Nesta quinta, TVs russas mostraram as placas em ucraniano e inglês nas estradas da região serem trocadas por sinais em russo.
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