SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada da rede 5G ao Brasil deve abrir espaço para pequenos empreendedores criarem produtos e serviços -alguns voltados, inclusive, a marcas de maior escala da nova cadeia.
A previsão é que a tecnologia comece a ser implantada pelas capitais, com data limite até julho de 2022. Embora não seja possível prever a adesão de consumidores, muitas empresas já estão se preparando para esse momento.
O uso da rede em um enorme leque de operações, como carros autônomos e cirurgias a distância, é possível graças à alta velocidade e à baixa latência do 5G, diz Laercio Aniceto Silva, superintendente de negócios da fundação Certi (Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras).
Latência é o tempo entre envio e resposta de um acionamento (por exemplo, pressionar um botão e ver o efeito na tela). A estimativa é que a velocidade alcançada com o 5G seja de 1Gbps (gigabits por segundo), cerca de dez vezes maior do que o 4G -mas ela pode atingir níveis maiores.
Assim, empresas que utilizam realidades virtual e aumentada em seus produtos e serviços também devem se beneficiar com a implementação da nova tecnologia.
É o caso da Beenoculus, que tem base em São Paulo e Curitiba (PR) e atua, entre outras frentes, em treinamentos feitos em realidade virtual para grandes companhias.
Com o uso de óculos especiais, é possível, por exemplo, que um funcionário em treinamento simule a operação de uma empilhadeira, controlando uma mesa semelhante ao painel de instrumentos do equipamento.
Uma das vantagens do sistema é a segurança e a praticidade do aprendizado, já que não é necessário deslocar uma máquina para essa finalidade, diz Rawlinson Peter Terrabuio, 50, um dos fundadores da Beenoculus.
Ele espera que, com o 5G, a empresa possa destravar o potencial dessas tecnologias. Isso significa que os treinamentos já oferecidos poderão ser feitos em tempo real, com mais interatividade e qualidade de imagens.
“Imagine que você está com um motor desmontado em uma fábrica e pode transmitir uma aula sobre o seu funcionamento para mecânicos de todo o Brasil em tempo real, de forma imersiva, em que o aluno se sinta ao lado do instrutor, com visão 360º”, diz.
A Beenoculus já tem o protótipo de um produto que espera poder comercializar em escala com a chegada do 5G: um sistema de inspeção veicular para montadoras que usa internet das coisas. Para funcionar, um mecânico da montadora usa óculos que auxiliam na conferência de itens do carro em tempo real e, à medida que ele verifica cada ponto, recebe uma validação.
A startup Beenoculus foi uma das selecionadas para integrar o Cubo Itaú, hub de inovação que fomenta o empreendedorismo tecnológico, com uma comunidade de cerca de 300 empresas.
Segundo Pedro Prates, codiretor da entidade, a implementação da nova infraestrutura do 5G tem um paralelo com a transformação de mercado vista com a chegada da internet, que possibilitou uma série de novos modelos de negócios e inovações.
“Aqui no Cubo, temos grandes empresas de diversos setores que falam com a gente constantemente sobre o 5G, o quanto que estão investindo nisso e olhando para o setor. Desde gigantes do agro a operadoras de telecomunicações”, diz ele. Para Prates, há oportunidades em segmentos que vão sofrer grandes transformações, como o agronegócio.
A Attri, empresa que atua há mais de dez anos em tecnologia e usabilidade de sites e aplicativos, também se prepara para atender clientes atentos à vinda do 5G, diz Cristina Fragata, 28, sócia e diretora de operações.
Uma possibilidade de serviço que a empresária vislumbra oferecer é o desenvolvimento de aplicativos que conectem diferentes dispositivos inteligentes, como um celular, um relógio e uma geladeira -e que poderiam interessar ao setor de varejo de alimentação.
“Esses ‘devices’ poderiam criar um ecossistema de compras digitais validado, por exemplo, com a ajuda de um relógio”, diz ela. Mas a velocidade com a qual isso vai de fato acontecer depende de como as empresas de telefonia vão trabalhar, afirma ela.
Para ingressar no setor, é preciso associar o conhecimento de tecnologia ao de negócios, diz Laercio Aniceto Silva, da fundação Certi.
Em busca de ajuda para viabilizar ideias, muitas pequenas empresas se conectam a incubadoras e ecossistemas de inovação. “Essas entidades conhecem mecanismos de financiamento, muitos deles não reembolsáveis. Ou, quando são reembolsáveis, têm taxas de juros subsidiadas”, afirma.
A Certi mantém a incubadora Celta (Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas), uma das primeiras voltadas a empresas de tecnologia do Brasil.
“Esse processo [de incubadoras] ajuda na área financeira, de mercado, industrial. Muitas vezes, o empreendedor é uma pessoa que tem muito conhecimento de tecnologia, mas não de negócio, então a gente equilibra esse conhecimento”, diz Silva.
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VEJA ÁREAS EM QUE A NOVA TECNOLOGIA TRAZ OPORTUNIDADES
Vendas online
Hoje, ecommerces compactam fotos para evitar problemas de carregamento que impactam nas vendas. Sem essa limitação, será possível explorar recursos e melhorar a experiência do usuário, o que aumentará a conversão de vendas
Logística
A nova rede do 5G possibilita que o transporte automatizado aconteça, por exemplo, dentro de um aeroporto ou de uma indústria, em que a matéria-prima pode ser retirada do estoque e integrada à produção
Agropecuária
Com ajuda da internet da coisas, a expectativa no campo é que seja possível realizar estimativas de safras, fazer o monitoramento de culturas e animais e automatizar as colheitas e os sistemas de pulverização
Medicina
A nova tecnologia de conexão permite aumentar a segurança de cirurgias feitas a distância e possibilita realizar exames de forma semelhanteFontes: Babi Tonhela, sócia da escola Ecommerce na Prática; Laercio Aniceto Silva, da Certi; e Sebrae
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