REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Os maiores animais terrestres de todos os tempos provavelmente precisavam de “amortecedores” fofinhos nas patas para que seu esqueleto suportasse as dezenas de toneladas de peso que podiam alcançar. De acordo com um novo estudo, essa adaptação foi crucial para que os saurópodes (nome dado ao grupo dos dinossauros quadrúpedes, herbívoros e pescoçudos) alcançassem seu tamanho descomunal ao longo de dezenas de milhões de anos.
As almofadas nas patas dos monstros pré-históricos ainda não foram identificadas diretamente -por serem formadas por tecidos moles, que se decompõem com muito mais facilidade do que os ossos, é esperado que elas não se preservem nos fósseis dos saurópodes. A alta probabilidade de que elas estivessem presentes nos bichos é uma conclusão que vem de simulações computacionais da maneira como eles andavam e das forças que atuavam sobre os ossos de suas patas.
As conclusões da análise estão na edição mais recente da revista especializada Science Advances, assinadas por um trio de pesquisadores ligados a instituições australianas. Andréas Jannel e Steven Salisbury, da Universidade de Queensland, e Olga Panagiotopoulou, da Universidade Monash, aplicaram os métodos computacionais a espécies de saurópodes de diversos tamanhos e que viveram em diferentes épocas, o que também os ajudou a traçar um esboço de como as almofadinhas evoluíram junto com o grupo.
Entre 200 milhões e 65 milhões de anos atrás, saurópodes como o célebre brontossauro e os titanossauros, que tinham grande diversidade de espécies no Brasil, estiveram entre os maiores vertebrados terrestres do planeta. Da ponta do focinho à ponta da cauda, podiam medir perto de 30 metros. Em tamanho, os únicos animais que os superam são as baleias de maior porte ainda vivas hoje, como a baleia-azul.
Como muitos saurópodes superavam em muito o tamanho dos maiores animais terrestres modernos, os paleontólogos sempre tentaram entender como eles conseguiram alcançar essas dimensões fora de série. No século passado, era comum que eles fossem concebidos como dinossauros semiaquáticos –seria mais fácil sustentar o peso corporal se a maior parte dele estivesse dentro d’água.
Desde então, ficou claro que os saurópodes possuíam uma série de adaptações que lhes permitiam se virar muito bem em terra firme mesmo com o tamanho descomunal. Comparados aos mamíferos terrestres de grande porte, por exemplo, eles tinham esqueletos proporcionalmente muito mais leves do que o esperado, com vértebras pneumáticas (grosso modo, com áreas “ocas”). As patas em forma de coluna também eram importantes para a tarefa de suportar o peso dos bichos.
Tudo isso ajudava, mas não seria suficiente por si só, afirmam os autores do novo estudo. As simulações realizadas por ele indicam que as forças produzidas pelo peso dos saurópodes sobre os ossos das patas seriam entre 5 vezes e 50 vezes mais intensas do que as geradas pelo peso dos maiores mamíferos terrestres de hoje, como os elefantes. Isso significa que, sem ajuda adicional, levando em conta só a resistência dos ossos, seria inevitável que eles acabassem sofrendo fraturas simplesmente por causa do peso.
Quando se acrescentam as almofadinhas nas patas, porém, as forças que os ossos das patas dos bichos precisam aguentar voltam a estar dentro do esperado para mamíferos grandalhões, por exemplo. Os pesquisadores estimam ainda que, embora as pegadas dos saurópodes encontradas hoje pareçam de animais plantígrados (ou seja, cuja planta do pé tocava totalmente o chão, como a dos seres humanos), o mais provável é que o esqueleto das patas fosse digitígrado (com a ponta dos dedos tocando o solo, como acontece com cachorros e gatos).
As almofadas recobririam, nesse caso, o meio e a parte de trás das patas, formando uma espécie de “palmilha ortopédica” que tocava o solo em toda a sua superfície. Também é possível que, tal como uma mola, elas armazenassem a energia das passadas e dessem um impulso extra aos bichos, diminuindo o esforço necessário para caminhar.
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